Exportação de veículos cresce, mas pode ser insustentável no longo prazo

DCI

 

As montadoras estão animadas com a possibilidade de superar a projeção de exportações em 2017. No entanto, os planos da indústria local de atingir níveis mais altos nos embarques podem ser insustentáveis no longo prazo.

 

“Falta produtividade não só no setor automotivo, mas no Brasil como um todo. Ainda vai levar alguns anos para conseguirmos ter competitividade expressiva no mercado internacional”, afirma o diretor da consultoria Sell-Out 3, Arnaldo Brazil.

 

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, informou que a entidade deve revisar para cima a projeção de exportações no ano.

 

“Provavelmente vamos superar a projeção de crescimento dos embarques em 2017”, destacou Megale. Ele disse que a entidade pode revisar, ainda no próximo mês, a previsão de exportações para o ano, sem quantificar, porém, o calibre da correção.

 

De janeiro a maio deste ano, as exportações cresceram 61,8%, para 307,6 mil unidades. “Batemos recorde histórico para o período”, comenta o dirigente.

 

Ele acrescentou que a nova política para o setor automotivo, intitulada Rota 2030 – apresentada ao governo recentemente -, é fator primordial para alavancar as exportações. “O programa é fundamental para o crescimento sustentável das vendas ao exterior”, pontuou.

 

Isso porque, de acordo com o dirigente, o Rota 2030 prevê uma escalada do desenvolvimento da indústria local para atender não só o mercado doméstico, mas também a outros países.

 

O diretor da Sell-Out 3 observa que um dos pilares fundamentais de um plano perene de exportações é o ‘custo País’. “A falta de produtividade no Brasil é resultado de uma logística deficiente e cara, uma carga tributária altíssima, bem como a folha de pagamento, além de custos exorbitantes com burocracia”, elenca.

 

Ele pondera ainda que um projeto de longo prazo de exportação passa majoritariamente pela estratégia de cada empresa. “A maior parte dos esforços tem que ser feita pelas montadoras, incluindo portfólio global, mix de produtos que gerem atratividade em outros mercados, além de produtividade. A decisão precisa partir da companhia de tornar a exportação parte permanente do negócio”, explica.

 

Neste sentido, Brazil afirma que o País ainda está longe de se tornar um grande exportador de veículos. “Historicamente, só exportamos quando as vendas internas vão mal. E conquistar novos mercados é uma tarefa muito difícil que requer, inclusive, perder margens para manter market share quando o comércio internacional não está bom.”

 

A capacidade instalada total da indústria brasileira é de aproximadamente 5,5 milhões de unidades, de acordo com estimativa da Anfavea. Para 2017, a produção deve girar em torno de 2,4 milhões de unidades, conforme projeção da entidade. “Mesmo que a exportação cresça consideravelmente, a ociosidade vai continuar muito alta no País”, avalia o consultor da Sell Out 3.

 

Ele acrescenta que, ainda que as montadoras definam um plano de longo prazo para exportar e o Brasil ofereça uma estrutura adequada de escoamento dos embarques, dificilmente o volume exportado será muito superior ao atual.

 

“Os hábitos de consumo de veículos está mudando no mundo todo. As pessoas estão comprando cada vez menos automóveis”, explica Brazil. “Além disso, as fábricas em outros países também querem exportar”, complementa.

 

De acordo com o consultor, um patamar razoável de exportações para o Brasil gira em torno de 600 mil a 700 mil unidades. “Na medida em que o mercado doméstico absorver mais a produção, a ociosidade nas montadoras ficará mais equalizada”, observa.

 

Balanço

 

A produção de veículos cresceu 23,4% de janeiro a maio sobre um ano antes, para 1,037 milhão de unidades. Já os licenciamentos tiveram alta de 1,6% na mesma base, para 824,4 mil unidades. “As vendas tiveram incremento modesto até maio, mas confirmam a nossa projeção de estabilidade para 2017”, assinala Megale.

 

Ele salienta que é cedo para saber se a crise política vai contaminar a economia, mas espera que as reformas trabalhista e da Previdência avancem no Congresso.

 

“Obviamente, temos um problema político, mas a atividade econômica precisa andar. O setor não vai parar esperando o que vai acontecer em Brasília”, analisa Megale. (DCI/Juliana Estigarríbia)