O Estado de S. Paulo
Em janeiro, visitei a África do Sul, que tem características econômicas semelhantes às do Brasil. É um país de renda média e com forte concentração de renda. Muitos carros encontrados nas ruas das principais cidades sul-africanas são, inclusive, feitos no Brasil.
Durante minha visita, observei bastante os carros que circulam nas ruas e verifiquei também seus preços em algumas concessionárias. Aqui, compartilho algumas impressões.
O mercado automotivo lá é bem menor (com vendas de cerca de 600 mil exemplares por ano), e tem uma característica diferente do brasileiro: por lá, é mais frequente se ver modelos de luxo circulando nas ruas. Por quê? Eles são mais baratos.
A relação entre os preços dos carros na África do Sul e no Brasil já teve um abismo maior, pois a moeda brasileira estava valorizada entre o fim da década passada e o início desta. Com as desvalorização do Real, a diferença caiu, mas ainda é bem grande, especialmente entre os veículos de marcas de luxo.
Começando pela base, chama a atenção o Fiesta com motor 1.0 Ecoboost. Por lá, ele parte de preço equivalente a R$ 57 mil. Aqui, a versão equipada com esse propulsor sai a R$ 73.990.
O 1.0 Ecoboost, lá, traz câmbio manual na versão de entrada. Aqui, ele é oferecido só com o pacote de equipamentos mais completo, e transmissão automatizada. Ainda assim, o abismo é grande. Em contrapartida, o Fiesta de entrada, no Brasil, custa R$ 53.390 – e tem motor 1.0 aspirado.
Abismo maior é o do Corolla. Aqui no Brasil, existe uma versão de R$ 70 mil, mas só para vendas especiais – com espera de oito meses, em nossa última verificação. Nas concessionárias, a configuração mais barata, GLi, sai a R$ 91.990. Na África do Sul, o sedã da Toyota começa em R$ 66 mil, aproximadamente.
Da mesma marca, a Hilux de cabine dupla parte de R$ 97.761 no país africano. Aqui, começa em R$ 113.850. Já o Civic, da Honda, na versão com motor 1.5 turbo, custa R$ 125 mil no mercado brasileiro. Na África do Sul, ele parte de cerca de R$ 109 mil, podendo chegar a R$ 116,5 mil, em conversão monetária direta.
Em compensação, as versões de entrada têm preços semelhantes, em torno de R$ 84 mil. E a nacional leva vantagem: é 2.0, enquanto a disponível na África do Sul é 1.8.
Também é grande a distância do Cruze, que aqui começa em cerca de R$ 92 mil e lá, em R$ 65 mil. No entanto, o sedã, no país da África, tem versão mais simples com motor 1.6 e câmbio manual, além de ainda estar em geração anterior.
Por aqui, já em nova geração, o modelo traz motor mais moderno, 1.4 turbo com injeção direta de combustível.
Analisando esses carros, dá para concluir que nem sempre a diferença de preço é muito grande, mas, ainda assim, por lá, o carro é mais acessível.
Explico: a maioria dos modelos tem versões mais simples, com menos equipamentos, permitindo acesso de uma parcela maior da população a modelos que, aqui, por causa do posicionamento criado por suas fabricantes, acabam sendo considerados de “luxo”.
Premium
No mercado de luxo de verdade, as diferenças de preço chamam mais a atenção. O Classe C vendido na África do Sul começa em R$ 126 mil. Aqui, o valor inicial é R$ 40 mil superior.
Para o Q3, a diferença de preço é de R$ 25 mil, para a versão mais simples. Por lá, ele começa em R$ 126 mil, enquanto o A3 Sedan parte de cerca de R$ 100 mil (R$ 115.190 aqui).
Na África do Sul, a versão vendida traz suspensão independente nas quatro rodas e câmbio automatizado, itens sofisticados que o três-volumes feito no Brasil perdeu na nacionalização.
Listamos os carros mais caros em 16 segmentos. Os preços considerados foram os iniciais. Por R$ 46.890, o Volkswagen Fox é o mais caro entre os hatches de entrada. Leia mais notícias sobre carros.
Exceções
Dos carros pesquisados, o Golf tem preço semelhante ao brasileiro. Por lá, ele começa em R$ 74 mil e, aqui, em R$ 77.257. Nos dois casos, as versões mais simples trazem o motor 1.0 turbo.
O HR-V, por sua vez, é mais barato aqui, onde parte de R$ 80 mil. Por lá, o opção com o mesmo motor 1.8 começa em R$ 100 mil.
As conversões foram feitas diretamente do rand, moeda sul-africana, para o Real. E, como eu disse no início deste post, as desvalorização do Real deixou o carro brasileiro mais barato no exterior, nos últimos anos – mas, infelizmente, não mais baratos para a população local.
A ideia aqui não é fazer análises profundas, como comparar o poder de compra dos consumidores dos dois países. Em conversas com alguns sul-africanos, percebi que, por lá, os carros também são considerados caros, mas os preços dos modelos de luxo não assustam tanto quanto no Brasil. (O Estado de S. Paulo)