Menor, mais barato, chamativo: o tuk tuk vira opção aos já manjados food trucks

O Estado de S. Paulo  

 

O raciocínio que empurrou vários empreendedores no rumo dos food trucks nunca esteve totalmente furado. Parecia fazer sentido ter um ponto de venda com agilidade e mobilidade com potencial para atrair clientes onde quer que estivessem, tudo isso sem custos imobiliários. Mas é justamente nesse terreno, o dos números, que outro tipo de ponto de venda, ainda mais ágil e barato, desponta como alternativa. Trata-se dos tuk tuks, uma espécie de triciclo facilmente encontrável no sudeste da Ásia, comum sobretudo na Tailândia. Um food truck já adaptado sai por R$ 180 mil. Já um tuk tuk customizado custa uns R$ 45 mil.

 

Única montadora desse tipo de veículo no Brasil, a Motocar, baseada na zona franca de Manaus, não gosta de usar a palavra tuk tuk, uma onomatopeia que remete ao barulho do motor e soa a precariedade, segundo Carlos Araújo, diretor comercial da empresa. Ele prefere chamar o veículo de triciclo e, depois de tentar emplacar o tuk tuk como meio de transporte, sem sucesso, depois para transporte de carga, também sem sucesso, a esperança da vez é transformar o produto em uma espécie de loja sobre rodas. “Nós temos um estudo que demonstra que o custo do tuk tuk por quilômetro rodado equivale a um terço do custo de um food truck”, conta Araújo.

 

A experiência, no entanto, demonstra que nem todas as mercadorias se prestam ao transporte em tuk tuks. Era num estado meio sambado que chegavam os bolos transportados no “Motobolo”, o nome que identifica o triciclo da empresa baiana Bolos das Meninas. Mas as deformações causadas às mercadorias pelos sacolejos e buracos no asfalto não reduziram o carinho das empresárias de Salvador pelo veículo, que é tracionado por um motor de 200 cilindradas, comumente encontrado em motos modestas. Ao longo do tempo, elas aprenderam a utilizá-lo apenas como ponto de venda – os bolos são transportados até o triciclo em outro veículo, para que cheguem inteiros e vistosos.

 

“Ele não funciona para rodar grandes distâncias, mas é ótimo como ponto fixo. É nosso segundo ponto de venda mais rentável, atrás apenas de nossa loja no (bairro da) Pituba”, diz Daniela Veloso, uma das empreendedoras que criaram a Bolo das Meninas, que tem quatro lojas fixas. A empresa tem outros dois pontos móveis de venda, uma Saveiro fechada e um Renault Kangoo. “Funciona muito bem também como propaganda, porque roda os bairros divulgando a marca”, acrescenta Daniela.

 

O baú de 2,25 metros cúbicos é um dos componentes customizáveis na Fag Brasil, única empresa homologada pela própria Motocar para transformar os tuk tucks fabricados no Brasil em pontos de venda. A oficina adapta mensalmente umas cinco unidades desse triciclo, e isso corresponde a 20% do número de veículos que transforma.

 

“Marcas fortes, como a Nestlé, pretendem operar com tuk tuks. A gente já customizou esses veículos até para os programas do Rodrigo Faro e da Xuxa. É um ponto de venda chamativo, acho que desperta muito mais o interesse do consumidor do que os quiosques, que se tornaram comuns”, diz Gislene Gonçalves, diretora de marketing da Fag Brasil.

 

Luis Cassins é um empresário de São Paulo que cultivou um envolvimento duplo com esse veículo híbrido, mezzo moto, mezzo caminhonete. Customizou um triciclo para ele mesmo vender hambúrgueres e gostou bastante da brincadeira, a ponto de adaptar veículos para outros comerciantes. “Cheguei a achar que o tuk tuk ia ser uma roubada, porque a cidade é toda esburacada. Claramente é um veículo com limitações de suspensão, mas aos poucos aprendemos a trabalhar com ele. Quando monto as minhas operações de guerra, feitas em dias em que preparo uns mil lanches, obviamente não consigo armazenar mercadorias como carne e queijo num baú com três metros cúbicos. Nesses dias, uso uma carretinha como carro de apoio. É muito mais apertado do que um food truck, mas ainda é meio incomum e chama mais a atenção, atraindo clientes.”

 

Por falar em chamar a atenção, os gêmeos Ricardo e Rodrigo Chanwei Chen radicalizaram. Customizaram e decoraram seu tuk tuk inspirados no carro que transportou Debi e Lóide (Jeff Daniels e Jim Carrey) no segundo filme da saga. Isso significa um tuk tuk com orelhas e língua de cachorro. Tudo para divulgar um negócio inusual pela própria natureza, a Padaria Pet, que vende cerveja sem álcool para cachorros, sorvete e molho de ração para o melhor amigo do homem. Os irmãos sino-brasileiros investiram R$ 40 mil no veículo, que costuma proporcionar faturamento de R$ 4 mil em grandes eventos caninos, como a Olimpíada e o cinema para cachorros.

 

“Os custos agora são irrisórios. Gastamos muito pouco com combustível e o tuk tuk é uma plataforma de venda muito boa”, diz Rodrigo.

 

O número de unidades vendidas por ano desde 2012, início da fabricação pela Motocar, oscila entre 1,2 e 1,5 mil. A cada cinco tuk tuks montados em Manaus, quatro vão para as mãos de empreendedores. Este ano, a montadora estima que 2 mil unidades sejam comercializadas. (O Estado de S. Paulo/Alessandro Lucchetti)