O Estado de S. Paulo
Foram três anos devastadores para a indústria, mas não se pode responsabilizar por isso apenas a política econômica equivocada do governo Dilma.
As lideranças dos empresários contribuíram para isso porque reivindicaram, aplaudiram e ajudaram a aprofundar essa política. Mas vamos primeiramente aos números.
Como apontaram na terça-feira as estatísticas das Contas Nacionais, desde o segundo trimestre de 2014 – quando a produção industrial começou a se retrair – até o fim de 2016, a queda acumulada foi de 13,2% . Os números de janeiro, divulgados nesta quarta-feira, não sugerem grandes alterações do quadro, embora boa parte dos analistas identifique sinais de reação nesse quadro ruim.
Boa parte da tragédia da indústria tem como causa o atendimento das reivindicações dos próprios empresários. Foram eles, por exemplo, que mais pressionaram a presidente Dilma em 2011 a derrubar os juros e a desvalorizar o real sem que se cumprissem précondições mínimas para tanto. Imaginaram com isso garantir aumento da competitividade do sistema. As distorções que se seguiram produziram o contrário.
O governo tentou corrigir a desestruturação da economia que se seguiu com artificialismos, todos eles aplaudidos pelas lideranças da indústria. Foram elas as primeiras a reivindicar a derrubada e o congelamento imediatos das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis. A Fiesp chegou até a divulgar peça publicitária para comemorar a “vitória”.
A indústria aplaudiu e exigiu a ampliação das desonerações – sempre seletivas – das contribuições sociais. Apoiou a redução de tributos às montadoras, ao setor de autopeças, ao de materiais de construção – tudo isso sem levar em conta que produziriam dois efeitos perniciosos: a mera antecipação de compras pelo consumidor sem aumento do mercado e a derrubada da arrecadação e, portanto, a deterioração das contas públicas.
Também foi a indústria que pediu e aprovou as políticas de distribuição de subsídios ao crédito de longo prazo, seja os promovidos pelo BNDES, seja os concedidos por outros bancos oficiais. E, por falar em BNDES, em todos esses anos, as lideranças da indústria se calaram sobre os efeitos corrosivos sobre as condições de livre concorrência produzidos pela política (também seletiva) dos campeões nacionais. Em nenhum momento denunciaram os efeitos inibitórios dessa política sobre o mercado interno de capitais. A indústria sempre defendeu (ou não combateu como deveria) a cartelização, o excessivo protecionismo comercial, as reservas de mercado e as políticas que exigiram exagerados conteúdos locais, como o caso dos fornecedores do setor de petróleo, que paralisaram a indústria e semearam desemprego.
Ninguém como o empresário sabe que nada deteriora mais o ambiente de negócios do que as incertezas e a falta de previsibilidade produzidas por pelo menos quatro anos de governo Dilma – para não ter de ir mais atrás.
A inflação disparou, o consumo despencou, o investimento e a poupança ficaram para trás, a capacidade ociosa foi aumentando e hoje está em torno de 25%. Enfim, o “curtoprazismo” e a política de puxadinhos acabam saindo caros demais. O afundamento da produção industrial é demonstração disso.
No gráfico, a evolução da produção industrial nos últimos 12 meses terminados em janeiro.
Os números de janeiro
A queda menor do que a esperada, de 0,1%, na produção industrial de janeiro sobre dezembro e, mais do que isso, o aumento de 1,4% sobre janeiro do ano passado, estão sendo vistos como indicação de que o pior pode ter passado. Tomara que essas conclusões estejam certas. Mas parecem prematuras. Indício disso é o de que janeiro deste ano teve dois dias úteis a mais do que o do ano passado. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)