O Estado de S. Paulo
A alta de 39% na produção de veículos em fevereiro, em relação ao resultado de um ano antes, não ilude os dirigentes do setor automobilístico. O fato de o setor ter parado de demitir (no mês passado, mais 414 trabalhadores foram incluídos nas folhas de pagamento das montadoras), de sua parte, não significa que começou o período de contratações.
Apesar da melhora que esses números sugerem, a situação continua ruim. É como se a indústria automobilística – como vários outros setores industriais – tivesse recuado no tempo. “Ainda estamos nos níveis de 2006”, lembrou o presidente da associação que representa as montadoras, a Anfavea, Antonio Megale.
A produção dos últimos 12 meses, de 2,03 milhões de unidades, é pouco mais da metade do total produzido em 2013 (3,74 milhões). O número de trabalhadores empregados em fevereiro, de 121,5 mil pessoas, é 22% menor do que o de dois anos antes (156,1 mil trabalhadores). Isso sem contar que o número atual inclui 8,6 mil trabalhadores inscritos no Programa Seguro Emprego, que implica redução de jornada e de salário, e 1,6 mil com contratos suspensos (regime de lay-off).
Ao aumento de produção no mês passado correspondeu um expressivo aumento também das exportações de veículos, que cresceram 45,3% na comparação com fevereiro de 2016. Mas as vendas para o mercado interno não reagiram. Segundo a Anfavea, elas recuaram 7,6% na comparação com fevereiro de 2016, o que confirma o resultado antecipado há uma semana pela federação das distribuidoras, a Fenabrave. O mês curto – de apenas 18 dias úteis – e as restrições do crédito estão entre as causas apontadas pelas montadoras para o mau desempenho das vendas em fevereiro. Março deve apresentar resultado bem melhor, prevê a Anfavea, de modo que o estoque nas montadoras, hoje estimado em 42 dias de vendas, deve começar a cair. O ideal é manter estoque para 30 dias de vendas.
A associação das montadoras mantém a previsão de aumento de 11,9% na produção e de 4% nas vendas internas neste ano. Mesmo que esse desempenho seja alcançado, o setor continuará a operar com alto índice de ociosidade – chegou a 80% nas fábricas de caminhão, resultado considerado desastroso. (O Estado de S. Paulo)