General Motors vende Opel a Peugeot e BNP Paribas por US$ 2,3 bilhões

O Estado de S. Paulo

 

O grupo automotivo francês PSA, proprietário das marcas Peugeot, Citroën e DS, oficializou nesta segunda-feira, 6, a aquisição da rival alemã Opel-Vauxhall, vendida pela americana General Motors. A transação custará aos franceses € 1,3 bilhão, aos quais se somam mais € 900 milhões pelo banco da empresa, que será adquirido em uma parceria 50%-50% com o banco BNP Paribas. Com a incorporação da montadora alemã, forte também na Grã-Bretanha, PSA se transforma no segundo maior fabricante automotivo da Europa, atrás apenas da Volkswagen.

 

As negociações entre PSA e General Motors vieram a público há três semanas. Na sexta-feira, uma reunião do Conselho de Consultivo da empresa francesa confirmou a proposta. O acordo foi anunciado na sede da empresa, em Paris. Por € 2,2 bilhões 9 US$ 2,33 bilhões), a holding de Peugeot e Citroën incorporou as marcas Opel e Vauxhall, empresas que nos últimos 16 anos causaram prejuízos de US$ 15 bilhões a GM – US$ 257 milhões em 2016. Além disso, PSA assumiu o controle do banco GM na Europa, que respondia pelo financiamento das 1,8 mil concessionárias das duas marcas em 11 países do continente.

 

A transação ainda se desenrolará nos próximos meses, mas a PSA já festeja um novo status no cenário mundial da indústria automotiva. Ao absorver Opel e Vauxhall, a holding de Peugeot e Citroën soma 1,2 milhão de veículos vendidos em 2016, elevando sua produção a 4,3 milhões, dado que coloca o novo grupo na segunda posição na Europa, à frente do concorrente histórico francês, Renault-Nissan. A empresa também passará de 172 mil a 200 mil funcionários, mas sindicatos temem os efeitos da sinergia entre os dois grupos sobre os empregos.

 

No fechamento dos mercados financeiros, PSA ganhou mais de 3% em valor com a boa aceitação dos investidores sobre a transação. Segundo Carlos Tavares, diretor-presidente do grupo, um novo “campeão” está nascendo. “A aquisição muda tudo para PSA, porque nós nos tornaremos uma empresa com uma receita de € 55 bilhões em um sólido segundo lugar no mercado europeu”, comemorou. “Isso nos permitirá construir PSA como um campeão automotivo europeu, mais forte e mais rentável”.

 

O objetivo do grupo francês é ganhar escala, superando o tamanho crítico para sobreviver como um player relevante na paisagem do setor automotivo mundial. Essa escala permitirá produzir compartilhando plantas industriais e mantendo estáveis os orçamentos de pesquisa e desenvolvimento, essenciais no setor.

 

A aquisição de Opel-Vauxhall representa também o apogeu do renascimento do grupo PSA. Há três anos, a empresa bate seus recordes de desempenho financeiro, após ter beirado a falência no final dos anos 2010, quando a crise financeira mundial atingiu em cheio o mercado automotivo na Europa. A virada começou com o afastamento da família Peugeot do comando da companhia e passou pela injeção de € 800 milhões em recursos do Estado francês e pela abertura do capital à chinesa Dong Feng, todos dois com 14% das ações. A virada coincidiu com a contratação de Carlos Tavares, ex-braço direito do franco-brasileiro Carlos Ghosn na Renault.

 

Desde então, a empresa reduziu seus quadros, cortando 17 mil empregos, fechando uma usina na França e celebrando acordos de flexibilidade com seus trabalhadores. Também retomou a lucratividade, fechando o ano passado com excedente de € 2,15 bilhões – só o Estado francês receberá € 50 milhões em dividendos em 2017. Outra iniciativa foi reduzir a concorrência com as marcas generalistas europeias e com as montadoras asiáticas, elevando o grau de refinamento dos veículos e, com isso, elevando seus preços. A estratégia agora é posicionar cada uma das marcas em uma faixa do mercado: Citroën como fabricante generalista mais acessível, Peugeot no centro da gama e DS como fabricante de veículos de luxo. Resta saber qual será o posicionamento a ser adotado para Opel-Vauxhall.

 

O objetivo de PSA, agora com 16% do mercado europeu, é tornar as marcas alemã e britânica rentáveis no horizonte 2020, acelerando as sinergias e o crescimento das vendas. A estratégia permitiria à empresa se aproximar da número 1, Volkswagen, com 24% do mercado europeu, mas em crise desde o escândalo “dieselgate”. (O Estado de S. Paulo/Andrei Netto)