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Os primeiros três meses de 2017 apontam alta no consumo de eletricidade do Brasil em relação ao ano anterior, em um desempenho puxado principalmente pela indústria, e com destaque para os segmentos de veículos e têxteis, de acordo com relatórios de instituições do setor nesta sexta-feira.
O desempenho marca um contraste ante a retração da demanda nos últimos dois anos e sugere um possível início de retomada na atividade de alguns segmentos da indústria, que responde por quase um terço do consumo de eletricidade no Brasil, de acordo com análises da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
A EPE contabilizou uma alta de 2,8% no consumo de energia elétrica em janeiro, enquanto dados prévios da CCEE apontam para uma elevação de 0,6% em fevereiro.
Também nesta sexta-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontou expectativa de que a carga de energia do sistema interligado do Brasil deverá subir 1,8% em março. A carga representa o consumo mais as perdas de energia na rede.
O boletim da EPE aponta para um crescimento de 20,4% no consumo da indústria têxtil em janeiro, seguida por expansão de 15,1% na utilização de eletricidade pelo setor de veículos. Setores de borrachas e metalurgia também tiveram altas relevantes, de 8,1% e 6,9%, respectivamente.
“O resultado do consumo industrial de eletricidade talvez aponte uma possível transição gradual de estabilização da economia, embora sinais mais consistentes precisem ser observados para se afirmar isso”, afirma a EPE.
Já os dados prévios da CCEE indicam que clientes da indústria de veículos e têxtil, além do setor de saneamento, elevaram a compra de eletricidade no mercado livre de energia em fevereiro, “caracterizando uma leve recuperação na atividade desses segmentos”.
A CCEE aponta um crescimento de 6,7% no consumo da indústria de saneamento, 5,2% para veículos e 1,9% para o setor têxtil em fevereiro. Já o setor metalúrgico apontou alta de 1,7%.
Os dados da CCEE eliminam o efeito da maior adesão de empresas às negociações no mercado livre, onde o consumidor negocia contratos de energia diretamente com geradores e comercializadoras. Se considerado o maior número de empresas no mercado, o consumo no ambiente livre teria subido 18,5% na comparação anual em fevereiro.
Cautela
Apesar dessas indicações positivas, o sócio da comercializadora de energia Compass, Marcelo Parodi, ainda adota um tom de cautela sobre o ritmo do consumo de eletricidade em 2017.
“O ano está começando melhor, mas em nossa leitura isso se deve mais à temperatura e ao uso de ar condicionado do que à retomada do consumo por parte do setor produtivo. Das empresas que atendemos, ainda não sentimos retomada… tem que ver se isso vai materializar, ter sinais claros”, explicou. (Reuters/Luciano Costa)