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Mesmo com um crescimento previsto de 5% para o faturamento em 2017, a indústria de máquinas e equipamentos não deve recuperar o mercado perdido nos últimos anos. A perspectiva para o setor ainda é de pessimismo.
“No melhor dos cenários, a expectativa é de um crescimento muito baixo da formação bruta de capital fixo”, afirma o economista da Pezco Microanalysis, João Costa.
O setor de bens de capital mecânicos é um importante termômetro para o investimento, uma vez que responde pela venda de máquinas para a produção industrial.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, a situação econômica no Brasil é de calamidade. “Como é que os empresários vão investir se as indústrias estão anêmicas?”, indagou o dirigente.
A entidade informou nesta quinta-feira (26) que, em 2016, o setor faturou R$ 66,2 bilhões, queda de 24,3% em relação ao ano anterior. Na comparação com 2012, último ano de crescimento do setor, essa cifra é 50% menor. “Acreditamos que a indústria de máquinas vai crescer em 2017, mas sobre uma base extremamente fraca”, pondera o presidente executivo da entidade, José Velloso.
Na visão do economista da Pezco, é difícil vislumbrar um cenário de retomada consistente da produção industrial. “O fundo do poço não chega.”
Costa considera que, na projeção mais otimista possível, a produção industrial não deve crescer mais do que 2% neste ano, no Brasil. “Nem de longe esse resultado recupera as sucessivas quedas dos últimos dez trimestres”, destaca.
Ele salienta que a recuperação da indústria de máquinas deve demorar. “A retomada pode ocorrer só em 2019, após as eleições presidenciais.”
Desempenho setorial
A indústria de máquinas e equipamentos encerrou 2016 com um nível de utilização da capacidade instalada de 66,4%, queda de 2,1 pontos percentuais em relação à média de 2015. Já a carteira de pedidos é uma das mais baixas da série histórica, de 2,6 meses.
“A situação continua muito difícil, embora tenhamos esperança que 2017 vai ser melhor”, comenta Marchesan.
A Abimaq condiciona uma retomada consistente da demanda do setor a uma redução da taxa básica de juros (Selic). “Hoje, a inflação está controlada, mas o juro real continua muito alto. Não há como atrair o investimento para o setor produtivo”, acredita Velloso.
Segundo ele, o melhor desempenho neste ano deve vir de agronegócios. “O crescimento em máquinas agrícolas deve ser de 15%”. Ele destaca, porém, que segmentos como petróleo e gás, infraestrutura, mineração e sucroalcooleiro continuam muito ruins, apesar das perspectivas de parcerias público-privadas.
“Mesmo que decolem, essas parcerias ainda levarão um tempo considerável para se reverter em pedidos à nossa indústria”, diz Velloso.
O único indicador que apresentou retração mais branda no setor foi o de exportações. Em 2016, as vendas de máquinas ao exterior alcançaram US$ 7,7 bilhões, queda de 2,9% em relação ao ano anterior.
“Em 2016, mais de 800 associadas exportaram. Nenhum setor tem esse desempenho”, garante Velloso. Apesar de alegar competitividade para exportar, a entidade defende isonomia interna. “Não estamos preocupados com o Donald Trump, mas sim com o Brasil”, diz Marchesan. (DCI/Juliana Estigarríbia)