Car and Driver Brasil
Um Ander Loafer Berluti no pé, um Tag Heuer no pulso, uma camisa com as inicias inscritas do lado esquerdo do peito e um carro de R$ 100 mil. Pronto! Para todos os efeitos, as pessoas vão olhar e comentar esse aí chegou lá. Ainda que isso escancare alguns valores mesquinhos, é assim que vão lhe julgar. Vivendo o “em Roma sê romano”, com tanta grana nem pense em andar por aí em nada que não seja um SUV. Eles estão para os carros como a Nike para o futebol, como a Etaly para o chefs, como a IPA para os cervejeiros.
E dá para entrar pela porta da frente desse mercado, sem sequer sujar sapatos mais em conta que os Berluti. Você pode ter um SUV médio, com menos equipamentos e mais status, ou optar por um SUV compacto recheado de itens de carros mais caros.
É o caso do Kicks, o menor dos quatro, que é feito sobre a plataforma do Nissan March e sai por R$ 91.840 nessa configuração de acabamento, a lá Infiniti. Já o HR-V ultrapassa a fronteira psicológica na versão EXL, e pode ser seu por R$ 101.400 com sistema multimídia completo, acabamento em couro e frisos cromados até no documento.
No extremo de baixo da categoria média, surge a grande novidade. O Jeep Compass pode ser seu por R$ 99.990! Sim, mais barato que o HR-V completo. E se por um lado ele lhe deve bancos de couro e um sistema multimídia mais refinado, compensa isso com porte, LEDs nos faróis e lanternas, um desenho arrebatador e o novo motor 2.0 Tigershark, de origem Chrysler. E ainda tem o Hyundai ix35, que na configuração GL abandona a fleuma aristocrática e não traz itens como câmera de ré, sistema multimídia, nem controlador automático de velocidade para conseguir chegar aos R$ 99.990 no canto direito da nota fiscal.
A partir daqui você fica sabendo o valor dos equipamentos e se os SUVs maiores são realmente melhores para quem procura o status e a praticidade que só um utilitário pode dar. Em qual das portas você deve entrar?
4º Lugar – Nissan Kicks SL
O Nissan surpreendeu a todos quando, logo na estreia, encarou e venceu os SUVs da sua categoria, com preço até R$ 90 mil, entre eles o mesmo HR-V, mas na versão LX CVT, que não conta, entre outros iten, com o sistema multimídia e os bancos de couro. A diferença de 2 pontos na somatória de pontos entre eles estava ali.
Como campeão, não nos restou alternativa em colocá-lo para confrontar a categoria de cima dos SUVs. Mas o desafio foi um tanto demais para ele. Fosse só pela configuração de cores, pelo trabalho e pela praticidade em usá-lo na cidade, seria uma briga mais dura. Mas os SUVs não são só isso. E quando se pensou em espaço interno e desempenho o Kicks não conseguiu dar um passo à frente.
Sem berrar
A explicação para esta classificação é simples. Não é preciso ser um gênio para entender que um carro derivado de um March será bem menor que outro com genes de um Renegade, de um Fit ou de um Elantra. Isso pesou. Ele é o que tem o menor espaço para os joelhos (13 cm) e ombros (1,47 m), mas dizer que é um carro apertado, seria injusto. O acabamento com couro na cor bege reforça a impressão de qualidade. O problema é que quando você toca os plásticos das portas e do painel, comparando com o material usado no Jeep e no Hyundai, as diferenças gritam.
A entrada do Kicks nesse seleto grupo de SUVs de R$ 100 mil também foi barrada pelo desempenho do modelo. Ao mesmo tempo em que na cidade ele mostra agilidade e o câmbio CVT trabalha sem reclamar tanto quanto o do HR-V, outro que usa o CVT, na estrada, acima dos 100 km/h é angustiante a demora em desenvolver velocidade.
A vantagem de ter materiais mais leves e o menor motor dos quatro, é que o 1.6 16V de 114 cv consegue economia incomparável com etanol. Na estrada roda mais de 3 km por litro extras frente ao Compass, por exemplo. Mas você tem que lembrar que os gastos com consumo não podem ser a prioridade na vida de quem chegou lá.
3º Lugar – Honda HR-V EXL
Eis o melhor dos SUVs compactos, mas o HR-V mostra a cada dia que não quer mais ser visto assim. Tanto que a Honda prepara para 2017 uma versão ainda mais equipada, que se chamará Touring e deve custar perto dos R$ 110 mil. A apresentação do WR-V, durante o Salão do Automóvel, um SUV menor e mais barato também não é coincidência.
O novo caminho do Honda é brigar na classe de cima. E o HR-V tem porte para isso. O entre-eixos de 2,61 é apenas 2 cm menor que o do Jeep Compass, e as bitolas dianteira e traseira são igualmente largas. O espaço interno chega a ser até melhor do que no Jeep, especialmente para quem viaja no banco traseiro. Há 23 cm, na média, de espaço para os joelhos, contra 18 cm da novidade, e 1,52 m de largura para os ombros, contra 1,53 m do Jeep. O porta-malas tem 20 litros a mais e só perde para os 465 litros do ix35, um SUV médio clássico.
Insensível
Com medidas tão próximas da categoria de cima, ele também se iguala ao Jeep e fica um pouco abaixo do ix35 quando o assunto é o acabamento. A forração inferior das portas com couro, na frente e atrás, mostram cuidados que a Jeep, por exemplo, não teve.
Equipado com motor 1.8 de 139 cv (com etanol), seu desempenho nas acelerações foi o melhor do comparativo e ele poderia beliscar a segunda posição não fosse o câmbio CVT atrapalhar as retomadas. Outro incômodo está no quanto do ruído do motor invade a cabine. Mesmo em rotações mais mansas, ouvem-se mais decibéis nele do que no Kicks. A suspensão mantém o carro firme e na mão, mas ainda não nos acostumamos com a rigidez no eixo traseiro. Em pisos maltratados quem viaja ali sofre com a baixa absorção do conjunto herdado do Fit.
Mesmo menor e não tão bem nascido, ele se aproxima bastante do ix35 sobretudo, pela farta lista de equipamento que a Honda oferece. E mesmo que a central multimída com monitor tátil não tenha lá tanta sensibilidade com os dedos, é algo que você só terá no Hyundai se pagar R$ 5.650 a mais, e sem os bancos de couro.
2º Lugar – Hyundai IX35 GL
A grande novidade da Hyundai para 2017 não pode ser vista por fora. Com a missão de reduzir o consumo de combustível, em virtude do Inovar Auto, a marca decidiu que o SUV produzido em Anápolis (GO) teria de ganhar um sistema Start-Stop e uma nova ECU para cumprir a meta governamental. Pois bem, ele conseguiu números de consumo melhores do que o do rival, Compass, mas perdeu um pouco do poder de força.
A mudança é sutil, contudo a reprogramação o deixou menos esperto. O reflexo veio nas provas de desempenho. No 0 a 100 km/h ele foi 0,7s mais lento que a versão 2016, equipada com o mesmo motor 2.0 16V de 167 cv (com etanol) do último teste. As retomadas foram em média 0,2 s piores. No entanto desconfiamos que a culpa não seja dessa reprogramação para a inserção do sistema start-stop no ix35, e sim porque o carro testado estava com baixíssima quilometragem. Outra sensação diferente foi o nível de ruído mais alto entre os quatro. Algo estranho de ouvir nos Hyundai.
CD-Player
Em nossa avaliação, o que realmente lhe tirou a vitória foi a falta de equipamentos da versão GL considerada aqui, ou melhor, pelo preço de se equipar o SUV com itens de série nos concorrentes mais baratos. Pelos R$ 99.990, o Hyundai não entrega bancos de couro, nem uma central multimídia, por mais simples que fosse. Bem-vindo de volta à era do CD player, meu amigo.
Segundo o marketing de produto da Hyundai há dois tipos de clientes para o mesmo carro, um que aspira chegar ao status que o ix35 sugere, e outro que não liga em gastar mais para ter o carro com teto panorâmico e todos os opcionais da versão de R$ 131.290 da versão GLS. Em resumo, quem opta pela versão mais barata tem menos equipamentos do que no Compass, a briga do ano entre os médios.
O lado bom da vida com o Hyundai é que ele é o mais espaçoso do quarteto, e não duvide que há quem valorize isso mais do que uma tecnologia de conectividade embarcada.
1º Lugar – Jeep Compass Sport
Sim, nós torcemos o nariz para a versão diesel do Compass na C/D 107 e acreditamos que se for para gastar mais de R$ 130 mil em um SUV desse nível, que seja um Audi Q3. Acreditamos também que você não gostaria de andar em um carro mais caro e que anda menos que o irmão Renegade. Mas com a nova versão flex, o papo é outro.
Este Compass aqui equilibra o porte físico que você espera de um SUV médio, com desempenho semelhante ao da concorrência e, ainda que os equipamentos não seja o topo da pirâmide de seu portfólio, não há nenhuma ausência escandalosa e ser sentida. Ah, e há também o fato de ele ter sua identidade. Enquanto o diesel transmite a sensação de ser um Grand-Renegade, esse aqui desfila singularidade.
Fosfosol
Com um motor 2.0 Tigershark, que se não é o estado da arte da engenharia, está longe de causar a gastrite nervosa que você tem com o Renegade 1.8 flex, ele tem até um ronco mais original, fugindo da letargia sonora destinada aos SUVs. Mesmo com 1.527 kg, o comportamento em acelerações e retomadas fica dentro do que chamamos de honesto e é o que de mais interessante você vai encontrar entre os médios por esse preço. O peso cobra o preço no consumo, as médias de 6,1 km/l na cidade e 9,6 km/l foram decepcionantes, mas melhores que as divulgadas pela Jeep (5,5 km/l e 7,2 km/l).
O câmbio de seis marchas, alvo de críticas no Renegade, também está mais animado, como se houvesse tomado fosfosol. Sua suspensão é firme sem sacudir as moedas no porta-copos como faz o HR-V.
Quando você vê a lista de equipamentos, só sente falta do couro nos bancos. Tudo bem que a pequena tela de 5″ do multimídia empobrece o conjunto, mas é melhor que o CD-Player do ix35, e mais fácil de interagir do que no Honda. Outra boa notícia vem do acabamento. Não há diferença gritante entre a Sport e a Longitude diesel. Nem nas portas, nem no painel, tampouco na vedação da cabine. Há, sim, a sensação típica levar o mesmo por menos grana. E isso, meu amigo, você não deve desperdiçar para entrar nesse mundo dos SUVs médios pela porta da frente. (Car and Driver Brasil)