Ociosidade das montadoras do País deve atingir cerca de 45% em 2017

 DCI

 

Com projeção de crescimento tímido das vendas no mercado doméstico e das exportações para 2017, as montadoras terão mais um ano difícil pela frente. A expectativa é que a ociosidade da indústria ainda se mantenha alta, sem previsão de novas contratações.

 

“Acredito que só quando tivermos o anúncio de novos investimentos será possível recuperar os postos de trabalho que perdemos nos últimos anos”, afirmou nesta quinta-feira (05) o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, em balanço anual.

 

A capacidade instalada das montadoras, hoje, gira em torno de 5,3 milhões de unidades, de acordo com a Anfavea. Para 2017, a associação projeta uma alta de 11,9% da produção, para 2,41 milhões de unidades, o que deve levar a indústria a uma ociosidade de aproximadamente 45%.

 

“O cenário político ainda se mostra bastante instável. A tendência é que a demanda comece a melhorar mesmo apenas a partir do segundo semestre”, aponta Megale.

 

De acordo com o economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil, Mauricio Nakahodo, o consumidor vai continuar cauteloso neste ano. “Devemos ter um comportamento bem mais prudente das famílias em relação à contração de novas dívidas”, pondera ele. O economista explica que, em 2016, o mercado de crédito estava bastante retraído, mas que a tendência para 2017 é de uma melhora do cenário.

 

“Apesar de os bancos continuarem cautelosos, devemos ter algum avanço na concessão de crédito”, pontua Nakahodo.

 

Megale ressalta que a inflação já demonstra convergência para o centro da meta (de 4,5%), o que deve contribuir para o recuo dos juros. Segundo o economista do MUFG, essa tendência abre caminho para a possibilidade de redução da taxa básica de juros (Selic).

 

“Do ponto de vista socioeconômico, a situação ainda é bem preocupante, mas já enxergamos espaço para queda da Selic”, comenta.

 

Para 2017, o MUFG projeta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,8%, bem próximo do centro da meta fixada em 4,5% pelo governo federal. “A própria queda do consumo das famílias e a taxa desemprego limitam a pressão sobre a inflação”, comenta o economista.

 

No entanto, ele alerta que a taxa de desemprego continuará alta em 2017, chegando a 13%. “Mas esse quadro deve começar a melhorar no segundo semestre”, estima.

 

Diante das incertezas que ainda permeiam a economia, a Anfavea projeta crescimento de 4% das vendas em 2017, para 2,13 milhões de unidades, desempenho similar ao de 2006. “Neste ano, devemos ter uma subida maior das vendas no segmento de caminhões”, pontua o dirigente.

 

As exportações também devem crescer de forma moderada este ano. Conforme projeção da Anfavea, as vendas ao exterior devem alcançar 558 mil unidades no ano que vem, alta de 7,2% sobre 2016.

 

“Alguns acordos comerciais ainda estão em fase de conclusão e devem impactar de maneira positiva o desempenho das exportações”, acredita.

 

Em meados de 2013, a Anfavea lançou um programa para impulsionar as exportações, intitulado “Exportar-Auto”, cuja meta era atingir um milhão de unidades até 2017.

 

Porém, com as dificuldades do governo brasileiro para promover acordos comerciais, o setor ainda se esforça para manter um patamar de pouco mais de 500 mil unidades exportadas por ano. “Nosso maior parceiro ainda é a Argentina, mas tivemos avanços com Chile e Colômbia, por exemplo”, comenta Megale.

 

O dirigente tem demonstrado receio, porém, quanto ao cenário internacional, principalmente após a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e movimentos similares se delineando em outros países. “Sabemos que a prioridade do bloco, neste momento, não são acordos automotivos, o que nos traz uma dificuldade adicional”, disse Megale recentemente ao DCI.

 

Emprego

 

O setor encerrou 2016 com 121,2 mil postos de trabalho, queda de 7,1% sobre o ano anterior. Segundo Megale, cada montadora adotou uma estratégia para adequar a produção, movimento que perdurou até o mês passado. “Não sabemos se os ajustes foram suficientes.”

 

Ele destacou, contudo, que uma reforma trabalhista é imprescindível para garantir segurança jurídica às montadoras. “Temos uma relação muito estreita com os sindicatos e, para nós, é fundamental que o acordado prevaleça sobre o legislado”, defende Megale. “Os acordos que fechamos com os sindicatos precisam ser respeitados”, destaca. (DCI/Juliana Estigarríbia)