Mercado de aços especiais tem queda estimada de 50% da demanda no País

DCI

 

Mesmo com alto potencial de crescimento no País, o mercado de aços especiais também foi contaminado pela crise que assola a indústria brasileira. Empresas que atuam no segmento relatam queda estimada de 50% da demanda e um horizonte ainda incerto de recuperação.

 

A russa NLMK, que atua no segmento de aços de grandes espessuras e alta resistência, não enxerga uma recuperação da indústria antes do segundo semestre de 2017.

 

“Em momentos de crise, a mentalidade ainda é pagar mais barato”, afirma o diretor-geral da empresa na América do Sul, Paulo Seabra.

 

O mercado de aços especiais abrange diversos segmentos da indústria e sua demanda geralmente depende de projetos que tenham foco em custo-benefício.

 

“De todo aço consumido nos países desenvolvidos, cerca de 7% são especiais. No Brasil, o volume não passa de 2%”, conta o executivo.

 

Segundo ele, a demanda do mercado recuou 50% no ano passado com o aprofundamento da crise brasileira. “A queda foi muito maior do que imaginávamos.”

 

Ele pontua que, dentro do universo de aços especiais, o segmento de implementos rodoviários foi o que mais caiu no período. Mineração também foi fortemente impactada pela retração dos preços das commodities.

 

A Steel Warehouse Cisa, que atua em aços de alta resistência, foi outra que viu a procura no segmento cair fortemente. “Por ser um produto mais caro, clientes têm buscado substituir parte da produção por insumo mais barato”, afirma o diretor-geral David Sánchez.

 

Resultado de uma joint venture com a brasileira Cisa Trading, a empresa acaba de iniciar suas operações no País após investimento de R$ 200 milhões em uma linha com capacidade para processar 200 mil toneladas por ano.

 

“Muitos clientes reportam que estão em compasso de espera para investir por conta da crise”, afirma Sánchez.

 

Ele observa que, apesar do aço especial custar até 40% mais caro do que o comum, os benefícios ao final do projeto são maiores. “A qualidade e a rentabilidade são superiores e no fim o custo extra fica em torno de 15%”, garante.

 

Ao quadro de falta de demanda, Seabra acrescenta a apreciação do câmbio como um fator que limita a expansão do segmento. Segundo ele, os custos da operação ficaram 50% mais caros.

 

“O problema não é o aumento do dólar em si, mas a instabilidade constante”, diz.

 

Seabra acredita que, diante da forte deterioração da atividade industrial no País, o segmento de aços especiais deva registrar retração em torno de 20% neste ano.

 

“A demanda não vai retornar tão rapidamente”, avalia o diretor da NLMK.

 

Potencial represado

 

Mesmo diante da baixa demanda, o mercado de aços especiais vem apresentando evolução. Em entrevista recente ao DCI, o gerente-geral de atendimento ao cliente, garantia da qualidade e produto da Usiminas, Eduardo Sarmento, revelou que a demanda por alta resistência vem crescendo muito no setor automotivo.

 

“No ano passado, vendemos o triplo do volume desse tipo de produto para as montadoras em relação a 2011”, declarou o executivo. Para amenizar os impactos da crise da indústria, Sarmento afirma que a siderúrgica realiza um trabalho junto ao cliente, inclusive no desenvolvimento de novos produtos. “Essa estratégia é extremamente importante para o desempenho da nossa empresa neste segmento”, pontua.

 

Novos negócios

 

O mapeamento de novos nichos de negócio também é a aposta da NLMK para crescer em meio à crise. “Vamos investir na diversificação do portfólio”, destaca Seabra.

 

Para este ano, a companhia projeta um crescimento de 10% no País. “Vamos ganhar market share da concorrência”, aposta. Segundo ele, a meta inicial da empresa era de uma participação de mercado, em 2015, de 5%. “Conseguimos cerca de 12%”, comemora.

 

Seabra acrescenta que a projeção da empresa é obter um market share de 30% no segmento em cinco anos. “Quando a economia retomar, vamos crescer de forma substancial.”

 

No entanto, por ora, o executivo não esconde o pessimismo. “Das cerca de 70 subsidiárias da NLMK ao redor do mundo, a do Brasil tem o pior desempenho”, pondera.

 

Já a Steel Warehouse Cisa tem como meta para o primeiro ano de operação atingir 35% da capacidade da planta de Paulínia (SP). “Queremos oferecer flexibilidade para nossos clientes e atende-los just in time”, comenta Sánchez.

 

Ele pontua, entretanto, que a empresa não deixará de contemplar o cenário político e econômico em suas projeções. “Estamos acompanhando a crise de perto, mas acreditamos que será possível atingir nossa meta”, avalia. (DCI/Juliana Estigarríbia)