Carsale
Comprar um bom carro usado é uma arte. Você precisa de muito conhecimento técnico e frieza para não fazer um mau negócio. Por mais que eu enumere vantagens de um usado em relação a um novo, sempre existirão aqueles que só vão querer saber do zero quilômetro. E um dos motivos é justamente o medo de não saber diferenciar um bom usado de um mau usado.
De qualquer forma, não estou aqui para convencer as pessoas a pensarem como eu. Até porque o mercado de usados só existe por alguém ter comprado um 0km. Mas admito que gosto de ajudar quem está pensando em abrir mão desse conceito.
Na minha profissão de Caçador de Carros, o maior desafio é desvendar o anúncio para decidir se ele vale ou não uma visita.
Priorizo sempre a originalidade do veículo e anúncios bem escritos, nos quais o vendedor descreve o automóvel com honestidade, sem omitir detalhes e histórico. Inclusive, até já dei dicas neste espaço para quem quer fazer um bom anúncio.
Nesta semana, porém, quero mostrar como identificar um anúncio suspeito – aquele com o qual nem é preciso perder tempo em busca de informações complementares.
Atente para os cinco pontos abaixo:
Preço: Muitos clientes já me pediram para que eu avaliasse um carro que parecia ser o melhor negócio do mundo. Mas bastava ver o preço para saber que havia algo errado.
A questão é simples: você venderia seu carro por um valor muito abaixo do praticado no mercado? Lembro de um pedido para avaliar um Chevrolet Corsa 1995 anunciado por R$ 5 mil. Um Corsinha em mau estado até pode valer isso, mas o carro em questão era um raro GSi (versão esportiva com motor 1.6 16V) em estado de colecionador que valia, pelo menos, quatro vezes mais. Na certa era um golpista anunciando o veículo.
Em casos de carros mais “comuns”, do dia a dia, um preço muito baixo pode indicar que o automóvel tem algum histórico negativo – leilão, sinistro ou documentação atrasada, por exemplo – ou então um grande problema mecânico.
Eu diria que apenas carros tidos como ruins de mercado podem ser anunciados com preços abaixo da média, pois são casos nos quais o dono precisa dar um bom desconto para tentar se desfazer do modelo.
Outra situação curiosa – e aí eu incluo quem quer um 0km – é a dos anúncios de carros novos com preços muito abaixo dos praticados pelas concessionárias.
Quem não quer um carro novo com preço de usado? Mas isso não existe! Já tive a curiosidade de entrar em contato com algumas dessas pessoas, e a negociação é bem difícil de entender. Dizem trabalhar dentro das fábricas e que por isso conseguem desconto. O detalhe é que pedem ao comprador em potencial que pague antes de ver o carro. Chance grande de se tratar de um golpista!
Fotos: Não é preciso ser fotógrafo profissional para tirar fotos com qualidade. Ainda mais com a tecnologia das câmeras e celulares de hoje. Mas é impressionante o número de anúncios com fotos péssimas, tremidas, escuras e embaçadas. Ou, ainda, que exibem apenas um dos lados do carro ou não mostram seu interior. Estaria o dono querendo omitir algum detalhe?
Algo que deve ser observado nas fotos é a paisagem onde o carro está. Quando vejo uma garagem toda desorganizada, imagino a mesma falta de atenção com a manutenção do carro.
E quanto aos vendedores que colocam fotos de divulgação nos anúncios? Estes são cara de pau mesmo, pois não têm coragem sequer de mostrar o próprio carro.
Originalidade: Pesquise todos os detalhes do carro que procura. Repare na altura da suspensão, desenho das rodas e qualquer outro aspecto que mostre se o carro já pode ter sido modificado. Eu desconfio de veículos assim e nem prossigo com a negociação. É o tipo de automóvel que eu não compraria para mim – e, portanto, jamais indicaria para qualquer cliente.
Contato: Quem quer vender precisa ter disponibilidade, ao menos, para atender uma ligação telefônica ou responder a uma mensagem. Claro que isso não precisa acontecer durante as 24 horas do dia. Mas também não dá para aceitar dias sem nenhuma posição do vendedor. Muitas vezes o telefone anunciado não existe, ou então só cai na caixa postal, forçando a comunicação por e-mail. É para suspeitar da credibilidade do negócio!
Descrição: Confirme as descrições que estão no anúncio. As mais utilizadas, que nem sempre condizem com a verdade, são as informações de “único dono” e “todas as revisões feitas em concessionária”. Algumas vezes isso é verdade, mas na maioria delas é conversa para se destacar de outros anúncios. Para confirmar a autenticidade, basta consultar o documento do carro (leia mais sobre documento aqui) e os carimbos das revisões no Manual do Proprietário.
Vale ressaltar que as dicas acima significam apenas os primeiros passos de uma possível (boa) negociação. Depois desta etapa vem a avaliação pessoal, na qual é preciso observar uma série de outros detalhes. Mas isso fica para uma outra coluna. (Carsale/Felipe Carvalho)