Carro antigo nacional é o modo mais barato de entrar no mundo dos clássicos

Folha de S. Paulo

 

“Carro antigo não é ciência exata. Um dia aparece um problema mecânico inesperado, é preciso saber conviver com isso”, diz Marcos Camargo, 32, dono de sete automóveis clássicos.

 

A experiência do colecionador mostra que ter um “vovô” na garagem requer tempo para procurar peças, paciência com imprevistos e, claro, paixão pelo carro. Quem pretende entrar para a turma de donos de modelos velhinhos não deve complicar o que já é essencialmente complicado.

 

Dados da Fenabrave (federação que reúne as distribuidoras de automóveis) mostram que 20,2 mil Fuscas foram negociados no Brasil no primeiro trimestre deste ano. Caso fosse um carro novo, seria o sexto mais vendido do país no período, à frente de VW Gol e Toyota Corolla.

 

Chevettes, Opalas e jipes antigos também se destacam no mercado de usados. Modelos assim podem ser a porta de entrada para o mundo dos clássicos: como ainda são de uso cotidiano Brasil afora, têm preços módicos e há fartura de peças de reposição.

 

“Sem dinheiro para comprar carros mais novos, muitos consumidores buscam opções no mercado de antigos. Não estamos falando só de paixão, mas também de necessidade”, diz André Belo, diretor executivo da loja virtual ArsenalCar.

 

Segundo Belo, os valores das peças de modelos que já não são mais produzidos são inferiores aos dos veículos mais atuais. Isso ocorre porque as autopeças que ainda produzem esses componentes reaproveitam formas antigas e não têm novos custos de engenharia e design.

 

Tem gente que compra seu primeiro antigo por ser a alternativa mais em conta e pega gosto pela coisa. O técnico industrial Caio Garofalo de Castro, 30, teve seu primeiro Fusca aos 19 anos. De lá para cá, já foi dono de Kombi, Chevette e Brasília. Atualmente é proprietário do “Cremoso”, um fusquinha bege ano 1975 que custou cerca de R$ 7.000.

 

“É um carro de uso diário”, diz Castro, que já gastou R$ 5.000 para deixar o carro idêntico à versão Jeans (com adesivos na carroceria e o interior em azul), que só foi vendida nos Estados Unidos nos anos 1970. Para compensar, ele economiza com a manutenção barata e a isenção de IPVA ­carros com mais de 20 anos não pagam a taxa.

 

O empresário Sylvio Lemeszenski, 62, investiu mais.

 

Em 2010, ele pagou R$ 15 mil por um raro Fusca 1950. O veículo foi um dos 30 primeiros importados para o Brasil pela Volkswagen da Alemanha. O modelo foi encontrado em Blumenau (SC) e sua restauração só ficou pronta no fim de 2015.

 

“Fiz questão de comprar tudo original. Trouxe partes da Alemanha e do Uruguai, foi uma caça ao tesouro”, afirma o empresário, que diz ter investido R$ 130 mil no carro. O motor e o câmbio são de Porsche 356, as únicas partes não originais. Por isso, o veículo não possui placa preta, concedida apenas aos antigos que não têm modificações. (Folha de S. Paulo/Michele Loureiro e Rodrigo Mora)