O quadro desastroso do setor de veículos

O Estado de S. Paulo

 

Em abril, quase todos os resultados do setor de veículos – produção, vendas internas, exportações – foram ruins, em nada alterando a sequência de quedas fortes dos últimos três anos. Além do prejuízo que alcança as revendedoras e começa a afetar montadoras e fábricas de autopeças, agrava­se o desemprego num segmento conhecido pela qualificação e renda elevada dos trabalhadores.

 

A produção de 169,8 mil veículos em abril caiu 13,6% em relação a março e 22,9% comparativamente a abril de 2015. Em 12 meses, até abril, a produção de 2,2 milhões de veículos é inferior em 25,8% à dos 12 meses anteriores, de quase 3 milhões.

 

As vendas de 162,9 mil unidades foram 9,1% menores que a de março, 25,7% inferiores às de abril de 2015 e, em 12 meses, a queda chegou a 29,4%, para 2,3 milhões, quase 1 milhão de veículos vendidos a menos. As vendas de veículos importados caíram 45% entre os primeiros quadrimestres de 2015 e 2016 e deverão chegar a 80% comparativamente a 2011, segundo a associação de importadores (Abeifa).

 

Só cresceu – entre março e abril – a venda de máquinas agrícolas e rodoviárias, mas entre os primeiros meses de 2015 e 2016 houve recuo de 40,8%.

 

O valor total exportado caiu 4,3% no mês e 7,6% entre janeiro e abril de 2015 e 2016.

 

Não há sinais de recuperação, embora a associação dos fabricantes (Anfavea) ainda preveja leve aumento na produção (0,5%) entre 2015 e 2016. A esta altura, o objetivo afigura­se inalcançável.

 

Estoques altos, maiores que a média histórica, só são inferiores aos do final do ano passado, quando as montadoras constataram que não haveria reação rápida. Os consumidores fogem do crédito. Os financiamentos para compra de carro não chegam à metade do que era contratado no início da década.

 

De quase 160 mil em outubro de 2013, as vagas nas montadoras chegaram a 128,4 mil em abril. Ao recuo de 11,2 mil vagas em um ano soma­se outro indicador: 35,6 mil trabalhadores estão incluídos em algum mecanismo de proteção temporária da atividade, dos quais 6 mil em lay­off (suspensão temporária de contratos). É a pior consequência da ociosidade de 52% da capacidade instalada, enfatizada pelo presidente da Anfavea, Antonio Megale.

 

Com recessão forte em 2016 e recuperação fraca, na melhor das hipóteses, em 2017, o setor não terá como manter seus programas de investimento. (O Estado de S. Paulo)