O Estado de S. Paulo
Mesmo com o mercado retraído, o preço do aço plano subiu 12% neste mês e novo aumento de 12% foi anunciado para junho. Em menos de seis meses, a matériaprima acumulará alta de 30%, somando os 5% praticados no fim de dezembro. Nos últimos três anos, o reajuste anual ficou entre 9% e 13%, segundo cálculos de grandes consumidores.
Empresas que têm a matériaprima como um dos principais itens da produção temem pela piora da situação financeira de suas operações e até mesmo pelo fechamento de fábricas de pequeno porte. “Já estamos com os custos estrangulados e nossos pedidos caíram absurdamente; esses reajustes vão nos penalizar ainda mais, pois não conseguimos repassálos aos clientes”, diz Cláudio Sahad, diretor da Ciamet, que produz buchas e arruelas para a indústria automobilística.
Sahad também é conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e diz que as empresas do setor, especialmente as de estamparia – em que o aço representa 100% da matériaprima – estão fragilizadas. “Muitas podem quebrar ou se tornarem inviáveis”.
O executivo diz entender a situação das siderúrgicas, que trabalham com a perspectiva de queda de 8,8% no consumo de aço no Brasil este ano, após um recuo de 16,7% no ano anterior, mas pede “um pouco de sensibilidade” do setor neste momento de dificuldade para todos.
Carmem Rossini, diretorapresidente da Niken, outra autopeça da área de estamparia, vê como um “despropósito” os reajustes do aço. A empresa emprega 200 funcionários e ela teme que, em algum momento, tenha de demitir pessoal. No ano passado, o setor de autopeças demitiu quase 30 mil trabalhadores.
O Sindipeças aguarda definição sobre o impeachment para conversar com representantes do governo e colocálos a par do assunto – se possível junto com dirigentes das montadoras, que também criticam o aumento.
Fabricantes de máquinas e equipamentos contabilizam “dois a três” reajustes do aço plano neste ano, um deles na semana passada, de 10% a 14%, dependendo do tipo do produto.
“Com a queda do mercado doméstico, a saída para muitas empresas seria a exportação, mas com esses aumentos não dá para ser competitivo”, diz José Veloso, Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
As siderúrgicas alegam que seguem os preços internacionais e estão corrigindo defasagens. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)