O Tempo
No ano passado, Minas Gerais fechou 196 mil postos de trabalho. Nos dois primeiros meses deste ano, já foram fechadas quase 20 mil vagas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A indústria de transformação responde por mais de um terço das demissões. Só o setor de autopeças, por exemplo, tem feito entre 800 e 1.200 homologações por mês, apenas na região metropolitana de Belo Horizonte, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.
“O setor de autopeças é o que mais tem demitido no momento. As paradas técnicas das montadoras, que duram de dez a 15 dias, reduzem as encomendas e isso reflete no fechamento das pequenas”, destaca o diretor do sindicato, Aldair Marques.
As demissões na ponta refletem a retração do setor de veículos que, de acordo com a Fundação João Pinheiro (FJP), recuou 33,1% no ano passado e, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), registrou queda de 36,1% no faturamento. Em fevereiro deste ano, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas caíram 20,5% em relação ao mesmo mês de 2015.
Esses resultados da indústria automotiva estão diretamente ligados ao desempenho negativo da indústria do aço, que vive o pior momento da história. Nos últimos dois anos, 29,74 mil colaboradores foram demitidos. Segundo o Instituto Aço Brasil (IABR), só no primeiro semestre de 2016 outros 11.332 sejam dispensados.
Ainda de acordo com o instituto, o consumo interno de aço deve cair 8,8% em 2016. A produção brasileira deve encolher 1%, totalizando 32,9 milhões de toneladas. Já as vendas internas de produtos siderúrgicos devem cair 4,1%, chegando a 17,4 milhões de toneladas.
Além do setor automotivo, o desaquecimento da construção civil e da indústrias de máquinas e equipamentos também contribuíram para paralisação ou fechamento de 74 unidades de produção, sendo quatro alto-fornos, incluindo os de Cubatão e Ipatinga, da Usiminas.
Indústria de alta tecnologia sofre mais
Pela primeira vez desde 2002, entre os diferentes setores da indústria de transformação, a queda foi mais acentuada nos segmentos com níveis de utilização de tecnologia mais elevados. Levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que as indústrias de alta intensidade tecnológica, categoria que inclui a de produtos farmacêuticos, informática, eletroeletrônicos, equipamentos de comunicação e de aparelhos médios e de precisão, apresentaram retração de 19,8%, um patamar de queda nunca registrado nos anos 2000.
Também tiveram perdas acima da média as indústria de média-alta intensidade tecnológica (máquinas e equipamentos elétricos, automotiva, química e equipamentos mecânicos), com retração de 16%. “Foi a primeira vez, desde 2002, que a alta tecnologia liderou a contração industrial no país. Isso marca uma ruptura no comportamento dessa indústria em relação à de transformação como um todo”, diz o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin. (O Tempo/Ludmila Pizarro e Queila Ariadne)