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A Mercedes-Benz tem avaliado periodicamente os seus planos diante das constantes oscilações do mercado. De acordo com a montadora, as vendas de veículos de luxo podem apresentar queda de até 12% em 2016, após anos de crescimento exponencial.
“Trabalhávamos com outra estimativa para o mercado total, mas após os dois primeiros meses do ano já enxergamos um viés de queda das vendas”, afirmou o presidente da montadora no País e CEO para América Latina, Philipp Schiemer.
A montadora inaugurou nesta quarta-feira (23) sua fábrica de automóveis em Iracemápolis, no interior de São Paulo, que consumiu investimentos acima de R$ 600 milhões. De 1999 a 2010, a companhia chegou a montar os modelos Classe A e Classe C em uma planta de Juiz de Fora (MG), que posteriormente foi transformada em uma unidade de caminhões.
A nova fábrica de automóveis tem capacidade para produzir 20 mil unidades anuais, porém, executivos garantem que esse volume pode ser facilmente expandido. “Temos essa intenção”, pontua o membro do conselho mundial da Mercedes-Benz Automóveis, Markus Schäfer.
No entanto, a tarefa não será fácil. A unidade, que escoará o sedã Classe C e o esportivo utilitário (SUV, na sigla em inglês) GLA, tinha previsão de início do segundo turno de produção para 2017, mas diante do cenário colocou o plano em espera.
“Hoje não temos qualquer previsão sobre isso”, pondera Philipp Schiemer.
Ele reforça que a marca sempre buscará a liderança, entretanto, afirma que não entrará em uma guerra de preços para conseguir a meta. “Eventualmente, teremos que reajustar preços e, se não formos líderes neste ano, não vamos sacrificar margens.”
A Mercedes-Benz leva em conta na sua briga por mercado as concorrentes Audi e BMW. No ano passado, as três marcas registraram vendas de aproximadamente 51 mil unidades no País. “Para este ano, projetamos um mercado entre 45 mil e 50 mil unidades”, diz Schiemer. A previsão vem após anos de euforia no segmento.
A Mercedes teve aumento de 50% das vendas no ano passado. Nos dois primeiros meses de 2016, porém, a montadora emplacou 1,35 mil unidades, queda de 23% em relação a igual período de 2015.
Câmbio
O presidente da Mercedes afirma que, atualmente, o dólar é o principal problema da operação da empresa. “Temos diversos componentes importados e a variação cambial atrapalha muito”, afirmou ele.
Ele destaca que, diante do cenário, a montadora não tem conseguido repassar o aumento de custos. “Estamos tentando aumentar preços, mas está muito difícil”, pontua.
Mesmo com o dólar valorizado, por enquanto a empresa não tem previsão de exportações. “As condições para exportar no Brasil ainda não são competitivas”, diz Schiemer.
O presidente da montadora no País, assim como outros executivos da companhia, garante que os modelos produzidos no Brasil serão exatamente iguais às versões alemãs.
“O produto será 100% fiel aos da matriz”, acrescentou Markus Schäfer.
A companhia informa que existem fornecedores integrados à planta de Iracemápolis e outros em cidades próximas, e que “todos são locais”. Schäfer citou como exemplo a alemã ZF, que possui fabricação em solo brasileiro.
Um ponto peculiar da fábrica do interior paulista é a ampla flexibilidade, uma vez que pode escoar os quase 40 modelos do portfólio da marca. “Trata-se da única planta da Mercedes no mundo que possui essa flexibilidade”, ressaltou Schäfer.
Sobre a crise no País, Schiemer afirma que é difícil fazer previsões. “No curto prazo, não enxergamos mudanças significativas no cenário. O Brasil precisa recuperar a sua credibilidade”, disse.
Ele preferiu não entrar em detalhes sobre a política brasileira, apesar de reforçar a importância do ajuste fiscal. “As oscilações em relação aos ajustes fiscais tiram toda a credibilidade do País. O investidor prefere não investir neste momento”, acrescentou. (DCI/Juliana Estigarríbia)