O Estado de S. Paulo
A indústria brasileira encerrou 2015 com o pior desempenho entre as principais economias. No quarto trimestre do ano passado, a produção brasileira recuou 12,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O resultado ficou bem abaixo da produção mundial, que cresceu 1,9% no período, segundo dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O levantamento foi feito com base nos dados da Unido (United Nations Industrial Development Organization – um braço das Nações Unidas para a indústria). O descompasso da indústria de transformação brasileira com o restante do mundo fica evidente ao se comparar em detalhes o resultado nacional com o de outros países.
O tombo da indústria da Rússia – outro país em grave situação econômica – foi de 5,7% no quarto trimestre. Na América Latina, a queda foi de 4%, embora algumas nações tenham exibido resultados bem menos preocupantes: a produção do Chile recuou 1,5%, e a da Argentina caiu 0,9%. No México, houve crescimento de 2,2%.
O intenso recuo observado na indústria nacional pode ser explicado pelo já conhecido Custo Brasil – que retira a competitividade do produto nacional – e pela incerteza que passou a dominar a economia brasileira. Com baixa confiança de consumidores e empresários, os investimentos foram postergados pelas companhias, contribuindo ainda mais para a piora do setor industrial.
“A queda da indústria brasileira descola de outras economias, incluindo as latino-americanas. O nível de contração do setor foi sem precedentes”, afirma Rafael Cagnin, economista do Iedi. “A paralisia da construção pesada, os problemas enfrentados pela Petrobrás e o ajuste fiscal feito por meio do investimento público causaram um baque muito grande”, diz Cagnin.
Queda global
A compilação de dados feita pelo Iedi também mostrou que a indústria mundial desacelerou. Nos países em desenvolvimento, a produção industrial avançou 4,6% no quatro trimestre do ano passado na comparação com o mesmo período de 2014. No trimestre imediatamente anterior, a alta havia sido de 4,9%.
No recorte das nações consideradas desenvolvidas, a indústria cresceu 0,2% nos últimos três meses do ano passado. No trimestre anterior, a alta havia sido de 1%.
A desaceleração da economia mundial deverá ser mais um entrave para a retomada do setor industrial brasileiro e, consequentemente, da economia nacional Com a desvalorização cambial e a retração do mercado interno, uma das apostas das empresas brasileiras está na retomada do comércio internacional como forma de mitigar os efeitos da atual recessão.
“Uma das esperanças do País nesse cenário tão conturbado é reativar a economia via exportação”, afirma Cagnin. “Mas a piora dos números é relevante para mostrar que a economia internacional não está tão bem como alguns acham. A recuperação tem sido fraca e vem se arrastando há muito tempo.”
Pelos números do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial cresceu 3,1% em 2015. Neste ano, a previsão do órgão é de uma expansão de 3,6%. (O Estado de S. Paulo)