Folha de S. Paulo
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) convocou lideranças empresariais do Estado para discutir o momento político na tarde de ontem, quintafeira (17).
No final da tarde, sua assessoria ligou para os jornais para dizer que, na opinião do empresário, “Dilma deveria renunciar já, pelo bem do Brasil”.
Skaf é filiado ao PMDB e concorreu ao governo do Estado em 2014. Ele é ligado ao vicepresidente Michel Temer, que assume a Presidência caso Dilma seja afastada por impeachment.
Desde que passou a se envolver mais diretamente na política, Skaf passou a ser visto com reserva por parte do empresariado, embora tenha apoio de vários sindicatos e associações empresariais.
Na noite desta quarta (16) a Fiesp fez um protesto contra a indicação do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva para o governo. Na fachada da entidade, na av. Paulista, projetouse uma imagem verdeamarela cortada por uma faixa preta, onde depois escreveuse Renúncia Já.
Sem guinadas
Ouvidos pela Folha na terça e na quartafeira, antes da divulgação da gravação em que Lula e Dilma falam sobre a posse do expresidente, empresários diziam não esperar guinada da política econômica para a esquerda com a volta do expresidente Lula como homem forte do governo.
Falando sobre a condição de anonimato, presidentes e altos executivos de diversos setores criticaram a nomeação do expresidente.
Para eles, na Casa Civil, Lula tentaria em um primeiro momento reaproximar o governo e o partido com um discurso de retomada de crescimento.
Mas o rombo fiscal e a pressão do dólar só deixam espaço para “medidas cosméticas” na economia, dificultando manobras que já foram usadas por Dilma no passado, como baixar juros à força e obrigar os bancos públicos a ampliar significativamente o crédito para estimular o consumo.
Avançar por esse caminho pode jogar o país na rota da Venezuela com câmbio nas alturas e inflação descontrolada. Por seu histórico, Lula é considerado por esses membros do setor privado um político “pragmático” e mais sensível a esse risco.
Nas últimas semanas, o PT e os movimentos sociais ligados ao partido pressionavam o governo Dilma a abandonar a reforma da Previdência, vista como um ataque aos direitos do trabalhador, e a adotar medidas de estímulo à economia mesmo sem dinheiro.
Para os empresários ouvidos, eram pequenas as chances de Lula de refazer as pontes com o PMDB e derrotar o impeachment no Congresso.
De acordo com essa avaliação, Lula e sua família estão sendo investigados pela operação Lava Jato e novas denúncias podem surgir. Também esperavam que a nomeação, que garante foro privilegiado, pudesse gerar forte reação contrária da opinião pública.
Para esses representantes do empresariado, se Lula e o governo sobreviverem aos protestos e às investigações da Lava Jato, aí sim poderia tentar uma aproximação com o setor privado para retomar investimentos.
Ainda assim, eles tinham dúvidas sobre se poderiam confiar no governo. Nesta quarta, com a confirmação de que o expresidente assumiria a Casa Civil, o dólar chegou a subir e a Bolsa a cair, mas o mercado mudou de orientação seguindo a tendência internacional, que beneficiou os países emergentes depois que os Estados Unidos decidiram não elevar sua taxa de juros.
Os investidores aguardam sinalizações sobre como ficará a condução da economia. (Folha de S. Paulo)