O Estado de S. Paulo
A crise no setor automobilístico se acentua a cada mês e as empresas não veem sinais de recuperação neste ano. Acreditam que, em 2016, só produzirão 48% do total de 5,05 milhões de unidades que têm condições de fabricar no País. Os números divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) lhes dão pela razão. A produção de veículos em fevereiro, de 131.313 unidades, foi 36,4% menor do que a de igual mês do ano passado – quando, convém destacar, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 3,8%, no pior desempenho desde 1990. Janeiro já tinha sido um mês de baixa produção, mas, em fevereiro, o total de veículos que saíram das linhas de montagem foi 12,5% menor.
Já as vendas caíram 5,5% em relação a janeiro e 21% na comparação com fevereiro do ano passado. Essa variação já tinha sido antecipada pela Federação Nacional das Revendedoras de Veículos (Fenabrave), segundo a qual, no mês passado, foram emplacados 146,8 mil veículos novos – entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus –, com queda de 5,4% em relação ao mês anterior e de 21% em relação a fevereiro do ano passado.
Para as fabricantes, a utilização da capacidade instalada baixou para um nível difícil de suportar. A ociosidade já passa de 50%. O ideal, como lembrou o presidente da Anfavea, Luiz Moan, é que a utilização se mantenha em torno de 85%.
Além das montadoras e das revendas, a crise no setor de veículos afeta gravemente as fabricantes de autopeças, que cortaram investimentos, entraram em regime de recuperação judicial ou encerraram as atividades em 2015, fechando mais de 30 mil postos de trabalho. Também no setor de autopeças a ociosidade cresceu, passando de 30% para 45%, situação que tende a persistir neste ano.
Com peso expressivo no PIB industrial, o setor automobilístico contribuirá para mais um ano de recuo da produção manufatureira, depois das quedas da indústria de 1,2% em 2014 e de 6,2% no ano passado.
Quanto maior o valor de um bem, mais difícil é sua comercialização em tempos de desemprego, perda de renda real e falta de confiança.
Mesmo que os juros cobrados nos financiamentos estejam entre os menores do mercado (31,3% ao ano, em média), o custo ainda é alto para quem não depende do veículo para trabalhar ou dispõe da alternativa do transporte público. A fragilidade do mercado levará as montadoras a cortar investimentos. (O Estado de S. Paulo)