O Estado de S. Paulo
O Brasil já perdeu quase um milhão de postos de trabalho com carteira assinada nos 12 meses até agosto deste ano, e o próprio ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, admite que o país pode ultrapassar esta marca até o fim de 2015. Nem o período de festas no fim de ano deve amenizar o cenário, que só voltará a apontar geração de novas vagas formais a partir do segundo semestre de 2016, segundo especialistas.
O economista Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), prevê que o emprego com carteira só exibirá resultados positivos em agosto do ano que vem, quando devem ser abertos entre 8 mil e 15 mil novos postos. “Essa leve melhora não sugere recuperação”, ponderou. “Melhorando, só lá para meados de 2017.”
Em agosto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou fechamento de 86.543 vagas, o quinto resultado negativo seguido e o pior para o mês desde 1995. Com isso, 985,6 mil empregos com carteira assinada foram extintos em todo o país nos últimos 12 meses – quase metade só na indústria de transformação, embora todas as atividades, inclusive o comércio e os serviços, estejam perdendo trabalhadores.
“Podemos perder isso (mais de um milhão de vagas), mas não quer dizer que estamos incapacitados de recuperar”, afirmou Dias. Segundo ele, o governo tem promovido ações para injetar ânimo no mercado de trabalho ainda este ano. Mas os economistas estão incrédulos diante da fraqueza da atividade.
“O mercado de trabalho só deve parar de piorar no segundo semestre de 2016, com o avanço do ajuste fiscal, que é essencial para recuperar os índices de confiança e estimular a volta dos investimentos e do consumo”, comentou Thaís Zara, economista da Rosenberg Associados. “O quadro atual é muito negativo. Muito precisará ser feito na área fiscal para melhorar o cenário no mercado de trabalho.”
O fechamento de postos em agosto foi menos intenso do que em julho, quando as demissões superaram as admissões em 157,9 mil. O ministro Manoel Dias comemorou o que chamou de “recuperação”. “Tenho que ser otimista, é da minha natureza. Espero, torço para que nós possamos manter essa desaceleração”, disse.
Apesar disso, o ministro evitou estabelecer uma data para o fim das demissões. Dias afirmou apenas que a reversão do quadro deve ocorrer “num prazo não muito longo” e que a capacidade de recuperação hoje é maior do que há 12 anos. “É difícil fazer uma previsão sobre quanto durará este período (de queda no emprego). Vai depender da avaliação de cada setor e de cada vontade política.”
No mês passado, a indústria de transformação mais uma vez comandou o fechamento de postos de trabalho no Brasil, com quase 48 mil vagas extintas, o pior saldo para o período em 20 anos. Em seguida vieram a construção civil (-25 mil) e o comércio (-12,9 mil). O resultado mensal do Caged só não foi pior porque os serviços contrataram quase 5 mil novos trabalhadores. Mas o resultado nem sequer compensa o que foi perdido em julho: um total de 58 mil vagas.
Para o economista Rodrigo Leandro de Moura, do Ibre/FGV, o resultado de serviços sugere alguma estabilidade e pode sinalizar que o setor deu início às contratações temporárias de fim de ano. “Pode ter alguma contratação, mas, no agregado, segue negativo. A economia está fraca”, relativizou. (O Estado de S. Paulo/Idiana Tomazelli, Maria Regina Silva e Ricardo Leopoldo)