O Estado de S. Paulo/Agências Internacionais
A Volkswagen vai nomear o chefeexecutivo da Porsche, Matthias Müller, como seu novo CEO, de acordo com uma fonte familiarizada à decisão. Müller substituirá Martin Winterkorn, que, em meio ao , nos Estados Unidos.
Winterkorn deixou o cargo poucos dias depois de a Agência de Proteção Ambiental norteamericana ter acusado a empresa de ter usado um software que fazia parecer que alguns modelos de carros movidos a diesel emitiam menos poluentes do que realmente emitem.
Como CEO da Porsche, Müller supervisionou um período de rápido crescimento da montadora de luxo, incluindo a bemsucedida introdução de dois utilitários esportivos. Próximo às famílias Porsche e Piëch, que controlam a Volkswagen, Müller foi visto como um candidato bem qualificado, e aceito entre os sindicatos e hierarquias mais baixas da empresa.
Outras decisões sobre o pessoal serão tomadas em uma reunião na próxima sextafeira, dizem membros do conselho de supervisão da montadora. Dois outros executivos importantes do Grupo Volkswagen podem ser afastados, de acordo com fontes. Ulrich Hackenberg, chefe de tecnologia da unidade Audi e Wolfgang Hatz, membro do conselho de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
Na terçafeira, a Volkswagen afirmou que mais de 11 milhões de carros foram afetados e, possivelmente, estão sujeitos a um recall em escala global. A empresa emitiu um alerta de lucro e anunciou que fará uma provisão de 6,5 bilhões de euros com o objetivo de prever a ocorrência de multas bilionárias nos Estados Unidos e na Europa.
As ações da Volkswagen despencaram cerca de 20% desde que reguladores norte-smericanos afirmaram, na última sexta-feira, que a companhia poderia receber até US$ 18 bilhões em penalidades.
Reação
As autoridades reguladoras do setor automotivo da Europa prometeram testar veículos em condições reais de tráfego, como reação ao escândalo que envolve a Volkswagen e, possivelmente, também a BMW e outras montadoras. Os novos testes, parte de um esforço para descobrir se os métodos usados pela Volkswagen para driblar a emissão de poluentes são generalizados na indústria, apresentam riscos as montadoras europeias, já que um de seus pontos fortes é o apelo de vender carros que não agridam o meio ambiente.
Os carros a diesel, que estão no centro do escândalo da Volkswagen, também são cruciais para a estratégia de vendas das montadoras na Europa, onde mais da metade dos veículos novos vendidos usam diesel, e não gasolina. Os governos da França e do Reino Unido anunciaram que vão comparar dados dos testes feitos em laboratório com os resultados de testes feitos no mundo real, usando carros escolhidos aleatoriamente.
A Alemanha começou a fazer testes de surpresa em carros não fabricados pela Volkswagen, num esforço do Ministério dos Transportes para determinar o alcance das manipulações, afirmou o ministro Alexander Dobrindt.
Na Europa, os carros passam por um teste de laboratório de 20 minutos que envolve aceleração, mudanças de marcha e desaceleração. Os ciclos do teste, precisamente definidos, têm o objetivo de assegurar paridade entre os diferentes fabricantes, mas especialistas dizem que eles têm brechas que permitem manipulações.
O Conselho Internacional de Transporte Limpo, um grupo sem fins lucrativos cujos testes ajudaram a expor a fraude da Volkswagen nos EUA, disse que os testes que conduziu em carros na Europa encontraram emissões de poluentes anunciadas e as reais.
Ontem, a Comissão Europeia pediu aos governos dos países membros da União Europeia que examinem quantos dos carros que estão hoje nas ruas têm software ou sensores que mascaram as emissões de poluentes. “Nós temos de ter um quadro completo de quantos veículos certificados na UE tiveram instalados” esses dispositivos, afirmou a comissão, acrescentando que eles infringem as leis do bloco.
A Comissão Europeia também pediu que os governos “concordem rapidamente” sobre medidas para garantir que novos modelos de veículo não sejam aprovados no bloco sem passar por testes de emissão “em condições reais de direção e que não possam ser iludidos por aplicativos enganadores”.
A comissária da UE paramercado interno e indústria, Elzbieta Bienkowska, disse que “a mensagem é clara: tolerância zero com fraude e cumprimento rigoroso das regras da UE”. Segundo ela, é preciso haver testes de emissões rigorosos com os veículos. O assunto será discutido entre os ministros do bloco no dia 10 de outubro.
Após reportagem, BMW nega ter manipulado testes
Outra montadora alemã, a BMW, afirmou ontem que não manipulou testes de emissões de poluentes, negando reportagem de uma revista do país que afirmava que alguns de seus carros à diesel excederiam os limites de poluição do ar. “Não há diferença no tratamento de emissões do escapamento se elas estão em um teste ou na estrada”, disse a montadora em comunicado divulgado ontem.
A negativa veio rapidamente porque há temor de que, graças ao escândalo da Volkswagen, outras montadoras possam ter seus carros monitorados mais de perto. Após a publicação da reportagem, as ações da BMW chegaram a cair 9,7%, maior desvalorização em quatro anos.
A revista alemã “Auto Bild” publicou reportagem em seu site dizendo que o modelo da BMW X3 xOrive 20d excedeu os limites de emissões do regime “Euro 6” em mais de 11 vezes em testes de estrada realizados pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês).
“Nenhum detalhe específico do teste nos foi providenciado e, assim, não temos como explicar estes resultados”, disse a BMW. “Nós entraremos em contato com a ICCT para pedir esclarecimentos do teste que realizaram”.
A revista informou mais tarde que não haveria evidência de manipulação nos sistemas de exaustão dos veículos da BMW. Em comunicado, a “Auto Bild” afirmou que os valores mencionados no levantamento da ICCT foram gerados apenas por um único teste rodoviário de uma hora. A publicação afirmou que o teste não significa “de maneira nenhuma” prova de manipulação. (O Estado de S. Paulo/Agências Internacionais)