Crise econômica atinge empresas importadoras de bens de capital voltadas à área automotiva

Portal Comex do Brasil/Ecco Press

 

Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) apontam que as importações totais no Brasil somaram US$ 12,8 bilhões no mês de agosto, o que representa uma baixa de 33,7% em comparação com o mesmo mês em 2014. A crescente desvalorização cambial e a fraca atividade doméstica colaboraram para uma expressiva queda de 21,3% nas importações totais no acumulado do ano até agosto, que somaram US$ 121,1 bilhões.

 

Principalmente por conta da redução das compras externas de máquinas e equipamentos de uso industrial e geral e de material e equipamentos elétricos, a queda na importação de bens de capital foi de 17,8% até agosto de 2015.

 

Para o diretor da filial brasileira da Junker, Dirk Huber, a atual crise política, além dos constantes escândalos de corrupção, são os responsáveis por este cenário. Seguindo a mesma linha, o diretor geral da japonesa Makino do Brasil, Carlos Eduardo Ibrahim, afirma que a maior parte desta retração se dá devido a uma crise de confiabilidade dos empresários brasileiros na política econômica de nosso governo. “A falta de uma política clara de investimentos e liberação de linhas de crédito, por exemplo, fazem com que os empresários posterguem ao máximo seus investimentos”, esclarece.

 

João Carlos Visetti, diretor-presidente da Trumpf do Brasil, diz que, semelhante à indústria nacional, os importados vêm sofrendo com a falta de demanda. “Do lado positivo, temos a liderança tecnológica e maior produtividade do que equipamentos fabricados por outras empresas; por outro lado, a incerteza e os juros altos fazem com que alguns clientes foquem no preço e não na relação custo-benefício, o total cost of owner ship”, esclarece. Cerca de 95% dos produtos que a trazemos para o Brasil não têm similar nacional. Arrisco a dizer que 100%”, diz Visetti.

 

Além de citar os mesmos problemas, o diretor técnico do Grupo Bener, Ricardo Lerner, comenta que a desindustrialização acentuada que o Brasil vem sofrendo nos últimos anos é fator fundamental que colabora com a baixa nas importações de máquinas, já que as empresas estão deixando de comprar.

 

Os números da queda

 

A subsidiária brasileira da Trumpf, que tem como clientes principais grandes montadoras de carro, entre elas Volkswagen, Ford e Fiat, fechou o ano fiscal em 30 de junho com uma queda de 30% em sua receita, sem perspectiva de melhora.

 

Toda essa retração está afetando diretamente as indústrias. Na Junker do Brasil houve uma redução de, aproximadamente, 35% nas importações no primeiro semestre de 2015 se comparado com o mesmo período do ano passado, segundo o diretor, Dirk Huber.

 

“Somos uma importadora de máquinas e equipamentos e, claro, estamos sofremos com a queda”, concorda o diretor do Grupo Bener, que teve uma queda de 45% nas importações no primeiro semestre de 2015 ante igual período de 2014. Para Lerner, o grande problema desta crise econômica “é que ela não oferece a menor perspectiva de melhora”.

 

Na Makino do Brasil houve uma queda brusca na venda de máquinas high tech de valores mais altos, assim como também aponta dados da Receita Federal do setor.  As máquinas que ainda estão sendo importadas são de baixo valor agregado, ou seja, de média para baixa tecnologia.

 

Dados da Receita Federal mostram que o volume de vendas do segmento diminuiu muito neste primeiro semestre de 2015 (de 30% a 40%) e o resultado destas vendas baixas será mostrado nas importações do segundo semestre de 2015, que ainda não está disponível. Vale salientar que a maioria das máquinas que entraram neste primeiro semestre no Brasil foram adquiridas no segundo semestre de 2014.

 

Desemprego em alta

 

O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou uma pesquisa revelando que a indústria paulista deverá demitir cerca de 250 mil funcionários até o final de 2015, já levando em conta as 25 mil demissões em agosto. Só o setor de máquinas e equipamentos fechou 4.865 postos de trabalho entre julho e agosto.

 

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras, que sofrem com a falta de vendas e pátios lotados, já cortaram mais de 11 mil empregos até agosto e mantêm 27 mil funcionários em férias coletivas ou em lay-off.

 

Como os principais compradores das empresas citadas são montadoras, o setor de máquinas e ferramentas sofre com a queda nas vendas de máquinas, sendo também obrigadas a demitir. Ricardo Lerner, da Bener explica que já sentia a chegada da crise desde meados de 2013. “De lá para cá tivemos uma redução de mais de 50% de nosso pessoal”.

 

Demitir ajuda a diminuir gastos, mas, para Dirk Huber, da Junker do Brasil, não é uma boa solução, pois se pode perder colaboradores altamente qualificados, cujo treinamento foi dispendioso para a empresa. As vendas para o setor automotivo representam 80% dos negócios da Junker.

 

Carlos Eduardo Ibrahim, da Makino do Brasil, que fornece centro de usinagens horizontais para indústria de autopeças e estas empresas distribuem seus produtos diretamente às montadoras, esclarece que o setor automobilístico representava cerca de 60% a 70% das vendas de máquinas e equipamentos no Brasil. Hoje, este número está em cerca de 30%.

 

Segundo o executivo da Makino, quando se fala de importadores que são filiais de grandes empresas internacionais, entre elas americana, alemã, japonesa etc., este índice é aceitável, mas quando se trata de importadores independentes, ou seja, empresas nacionais que representam empresas internacionais, muitas delas estão em sérias dificuldades financeiras.

 

Driblando problemas

 

As empresas estão procurando opções alternativas para driblar as dificuldades. A Junker tenta aquecer as vendas na procura de novas aplicações e mercados. Já a Makino do Brasil segue segurando investimentos desnecessários, reduzindo custos e focando em negócios de curto prazo. A Bener investe em uma ampla de produtos que possibilite acessar o maior número de segmentos, ao mesmo tempo em que mantém austeridade com gastos e custos da empresa.

 

Para Visetti, da Trumpf, os impostos no Brasil tornam a situação ainda mais greve. O executivo esclarece que esse é o ponto mais complicado, pois variam de Estado para Estado e também entre segmentos industriais (ICMS), demandando tempo e recursos da empresa. “Fora isso, todo o processo de importação é burocrático. O tempo de liberação de uma peça ou máquina é completamente imprevisível”. De acordo com ele, esses fatores dificultam o acesso da indústria nacional à tecnologia de ponta, que precisa melhorar em muito sua produtividade e competitividade.

 

Apesar da crise, os empresários permanecem esperançosos, mas não enxergam grandes mudanças para 2016. “O grande problema dessa crise econômica é que ela não nos dá perspectivas de melhora”, afirma Lerner, da Bener.

 

“Para que essa situação melhore, deveria haver ações governamentais para que o povo e o empresariado brasileiro possam  ter novamente confiança no governo no tocante à estabilidade financeira e política”, avalia Dirk Huber, diretor da Junker do Brasil. (Portal Comex do Brasil/Ecco Press)