O Estado de S. Paulo
Não chega a ser encorajadora a alta de 3,6% do indicador de intenção de investimentos na indústria no terceiro trimestre deste ano, segundo sondagem há pouco divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador ficou em 86,0 pontos, e 33% das indústrias pesquisadas pretendem reduzir investimentos, enquanto 19% planejam aumentálos nos próximos 12 meses, resultado ligeiramente melhor do que o do segundo trimestre, quando essas porcentagens foram, respectivamente, de 35% e de 18%.
Notase, porém, que o nível registrado por esse indicador no terceiro trimestre do ano é 19,6% inferior ao de idêntico período de 2014, sendo o segundo menor da série iniciada em 2012. De qualquer forma, a questão está em saber se a pequena melhora em relação ao trimestre imediatamente anterior é o esboço de uma tendência que poderia levar a uma retomada firme a médio prazo.
A FGV é cautelosa a esse respeito. Como afirmou o economista Aloísio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da entidade, a alta do indicador é discreta, se comparada com a queda observada nos seis trimestres anteriores. “Caso essa tendência de alta seja confirmada no próximo trimestre, o resultado estaria sinalizando uma diminuição das taxas negativas daqui por diante”, disse ele.
Isso significa apenas que deixou de piorar, não se esperando que o índice de investimentos volte a 100 pontos a médio prazo, o que significaria um número de indústrias com planos de elevar investimentos superior ao daquelas que tencionam reduzilos. Isso se explica pelo elevado nível de capacidade ociosa da indústria, que inibe investimentos, especialmente num ambiente de demanda interna muito desaquecida e crédito escasso. Há indústrias que não dispõem de recursos nem mesmo para repor a depreciação de seu maquinário. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as indústrias que vêm investindo estão dando sequência a projetos anteriores à crise.
Dados mais recentes mostram que, estimulada pela desvalorização do real, parcela maior de indústrias tem buscado o mercado externo, mas este ainda é um processo lento, prejudicado, entre outros fatores, pela instabilidade do mercado de câmbio. A depreciação do real também favorece a substituição de importação de componentes pela indústria. Mas tais circunstâncias, pelo menos até agora, pouco têm estimulado os investimentos. (O Estado de S. Paulo)