Folha de S. Paulo
Reflexo da recessão econômica, a participação da indústria de transformação na economia deve encolher ainda mais neste ano.
Previsão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) feita para a Folha aponta que o setor mais nobre da indústria, o da manufatura, vai fechar 2015 representando apenas 9% do PIB (Produto Interno Bruto), depois de encerrar o ano passado com uma fatia de 10,9%.
O nível é o mais baixo registrado na série com metodologia comparável do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que começa no ano 2000.
A CNI afirma, contudo, que os dados indicam que o país está retornando a patamares préindustrialização, do fim dos anos 1940.
O presidente da entidade, Robson Andrade, tem uma estimativa ainda mais pessimista para os próximos anos. “Infelizmente, nossa participação tende a cair para 8%”, diz ele sobre o futuro da indústria da transformação, de maior valor agregado e que produz, por exemplo, bens de consumo duráveis e máquinas e equipamentos.
O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) classifica a queda como “preocupante” por estar ocorrendo de forma “prematura”.
Protegida, mas em queda
2008 a 2010
Desoneração de IPI sobre automóveis
2011
Prorrogação do IPI a setores como caminhões
Ampliação de empresas que podem aderir ao Simples Nacional
Redução do prazo de devolução de créditos de PIS/Cofins
2012
IPI próximo de zero para carros populares
Desoneração da folha de salários para vários setores
2013
Desoneração de produtos da cesta básica
Prorrogação da desoneração de IPI sobre automóveis, móveis e produtos da linha branca
Redução de PIS/Cofins para indústria química
2014
Ampliação da desoneração da folha de pagamento de salários
Prorrogação do IPI sobre automóveis e móveis
Ampliação do Simples Nacional
Prorrogação da alíquota zero de PIS/Cofins sobre a venda de bens de informática
Ele lembra que essa redução é normal em economias mais maduras, mas não nas de países de renda média, como a brasileira. Mesmo assim, destaca, nos Estados Unidos a participação está acima da do Brasil, na faixa de 13% a 15% do PIB norte-americano.
Armando Monteiro diz que a queda acentuada em 2015 é justificada por “estarmos num ano atípico, de forte retração do crédito, afetando indústrias importantes, como a automotiva e a de bens de consumo duráveis”.
Ele destaca que, diante do cenário de incerteza na economia, o consumidor está adiando a troca do carro, da geladeira e do televisor.
O ministro espera, porém, uma recuperação do setor por causa do dólar mais competitivo. “A indústria voltada para exportação está melhorando, o que vai ajudar a recuperar o setor da manufatura”, aponta.
Em sua opinião, o dólar mais valorizado, diante do novo cenário mundial de fim do ciclo das commodities, veio para ficar e vai ajudar a indústria nacional a substituir produtos que até pouco tempo estavam sendo importados.
Culpa do governo
Além da recessão econômica, o presidente da CNI avalia que o governo tem sua parte de responsabilidade pelo encolhimento da indústria de transformação, que chegou a ter uma participação de quase 18% do PIB brasileiro em 2004, mas desde então veio caindo a cada ano.
“O governo falhou nas reformas que dariam mais competitividade à indústria, setor mais exposto à competição externa. Não fez a reforma tributária, a trabalhista, não criou regras para dar segurança jurídica”, diz ele.
O resultado, segundo Andrade, é que a indústria brasileira de transformação é “pequena, de baixa tecnologia e de pouco investimento”.
Para ele, esse processo de desindustrialização “não deve ser revertido no curto prazo”, citando, por exemplo, que a siderurgia trabalha com cerca de 60% de capacidade ociosa.
Assim como o ministro, o presidente da CNI diz acreditar que a esperança está no mercado externo. “A indústria automotiva, que havia reduzido sua exportação, deve em breve voltar a exportar cerca de 20% de sua produção, o que vai ajudar o setor a se recuperar”. (Folha de S. Paulo/Valdo Cruz)