Reuters
A canadense Canadian Solar, a norte-americana SunEdison e a chinesa BYD já estão em negociações avançadas e devem anunciar em breve investimentos em fábricas de painéis solares fotovoltaicos no Brasil, disseram representantes das empresas presentes em uma feira do setor em São Paulo na última quarta-feira (2).
As companhias correm para atender a um mercado em expansão, com o alto interesse em investimentos em energia solar, que caiu nas graças do governo neste ano e deve ter leilões anuais, além de um plano de estímulo a instalações de menor porte, em telhados.
Esses primeiros investimentos estrangeiros em unidades locais também visam atender a uma exigência para que a compra dos equipamentos possa ser financiada em condições mais favoráveis pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um diferencial importante em um momento em que as elevadas taxas de juros brasileiras e a disparada do câmbio dificultam outras alternativas de captação de recursos pelos investidores em usinas.
O BNDES criou um programa de aumento gradual do índice de nacionalização dos painéis solares, que no início precisarão de praticamente apenas componentes menores e montagem locais.
Nos dois primeiros leilões para energia solar promovidos no país, um na semana passada e um em outubro de 2014, foram contratados um total de 2 gigawatts em potência instalada, em empreendimentos a serem implementados até 2017.
“Oportunidade muito boa”
A SunEdison, que viabilizou usinas em parceria com a brasileira Renova em ambos os leilões, promete revelar “nas próximas semanas” os planos para uma fábrica de painéis, segundo o diretor da empresa no país, Luis Pita.
“Achamos que vai ser uma oportunidade muito boa no mercado… é uma decisão interna que tem que ser tomada nas próximas semanas. Estamos avaliando, com base no resultado dos últimos leilões, a demanda que podemos ter, avaliando o tamanho da fábrica”, disse Pita.
Segundo o executivo, a planta precisaria estar em operação plena em 2016, o que permitiria fornecer os módulos solares para as usinas construídas com a Renova.
O gerente geral para as Américas da Canadian Solar, Thomas Koerner, disse que a empresa também instalará uma fábrica no Brasil para produzir equipamentos.
A companhia canadense, assim como a SunEdison, comercializou a energia de usinas solares nos certames promovidos pelo governo, e com uma unidade local pretende fornecer para esses e outros empreendimentos.
“Decidimos estar no Brasil como uma estratégia de longo prazo, um plano de longo prazo olhando para toda a América do Sul”, disse Koerner à Reuters, destacando que o escritório da empresa em São Paulo já fecha vendas para outros países da região, como Chile e Argentina.
Ele disse que ainda não é possível revelar onde será a fábrica e quando esta deve iniciar a operação, mas lembrou que o cronograma deverá permitir que a unidade forneça para as usinas projetadas no país, que precisam estar prontas em 2017.
Outro investidor que já negocia a entrada no setor é a chinesa BYD, que pretende anunciar oficialmente a construção de uma planta de módulos fotovoltaicos no Brasil até o segundo trimestre de 2016.
A companhia já possui uma fábrica de ônibus elétricos em Campinas (SP) e assinou recentemente um memorando de entendimento para investir 150 milhões de reais na unidade voltada à indústria solar.
“Estamos negociando parcerias para fornecer às empresas que participam dos leilões”, disse a gerente de Marketing da BYD Brasil, Joanne Wei.
O investimento em unidades no país, no entanto, ainda não é uma unanimidade. O gerente de vendas no Brasil da também chinesa Jinko Solar, Rafael Rieiro, disse que a empresa passou seis meses estudando essa alternativa, mas preferiu apostar nas importações, ao menos por hora.
“Hoje, nossos clientes não querem pagar mais para ter um produto fabricado no Brasil”, explicou Rieiro, que estima que, ao menos metade das usinas viabilizadas no último leilão solar promovido pelo governo, deverão usar equipamentos vindos de fora.
Brasileiras também entram no nicho
Além das grandes fornecedoras estrangeiras, o crescimento da industria solar atraiu o interesse também de investidores brasileiros, que já começaram a abrir as primeiras fábricas locais de módulos.
A Globo Brasil iniciou a produção há três meses em Valinhos, no interior de São Paulo, com capacidade de 180 megawatts ao ano.
“Temos capacidade para atender grandes usinas e também instalações menores, que têm um volume maior”, disse a responsável pelo departamento de Planejamento da empresa, Elaine Degaspari.
Já a Pure Energy pretende iniciar operações em Alagoas em dezembro deste ano, com capacidade de 60 megawatts ao ano, também de olho no fornecimento para projetos de todos os portes, segundo a gerente comercial Michelly Chaves.
A aposta das brasileiras é na venda com financiamento pelo BNDES, que já credenciou os painéis da Globo e financiou em 30 milhões de reais a unidade da Pure Energy.
Especialistas, no entanto, acreditam que essas empresas devem ganhar mais força nas vendas para pequenos consumidores e comércios, para instalações em telhados, enquanto as usinas de leilões devem buscar fabricantes de maior porte.
“Quem vende em leilão é mais complicado. Você tem que atender determinados padrões de geração, então fica difícil você de repente tentar minimizar custo pegando um fabricante local que esteja começando. A informação que você tem sobre ele é muito pequena”, disse o consultor Josué Ferreira, da Excelência Energética.
Ele afirmou, no entanto, que a tecnologia solar já é dominada e não deve ter dificuldades em ser replicada no país. “Com o desenvolvimento do mercado, você vai começar a ter essas alternativas”. (Reuters/Luciano Costa)