O Estado de S. Paulo/The New York Times
O Google está à frente na corrida pela fabricação de carros que dispensam motoristas para se locomover nas cidades, mas está enfrentando um problema de segurança curioso: os humanos.
No mês passado, quando um desses carros autônomos da companhia aproximou-se de um cruzamento, fez o que deveria fazer: reduziu a velocidade para um pedestre atravessar a rua, o que levou o seu “condutor de segurança” a usar o breque. Com o pedestre correu tudo bem, mas com o carro nem tanto. O veículo acabou atingido na traseira por um sedã conduzido por um motorista humano.
A frota de carros autônomos em teste do Google está programada para seguir a lei à letra. Mas pode ser difícil se deslocar se você fica muito preso às normas. Em 2009, um carro da empresa em fase de testes não conseguiu seguir em frente num semáforo de quatro tempos porque seus sensores ficaram à espera de que os outros motoristas (humanos) parassem completamente para deixá-lo passar. Os motoristas, porém, avançavam lentamente para atravessar o cruzamento. O robô do Google ficou paralisado sem saber em qual momento deveria se movimentar. Este, aliás, não é o único problema.
Pesquisadores desta área de veículos autônomos afirmam que um dos maiores desafios enfrentados pelos carros automatizados é integrá-los num mundo em que os humanos não se comportam de acordo com as normas.
“O problema, de fato, é que o carro é seguro demais”, disse Donald Norman, diretor do Design Lab na Universidade da Califórnia em San Diego. “Eles têm de aprender a ser agressivos na medida certa e a medida certa depende da cultura”.
Acidentes e mortes poderão muito bem disparar num mundo sem nenhum motorista no controle de um carro, como preveem alguns pesquisadores. Mas o amplo uso dessa tecnologia deve demorar ainda muitos anos e os encarregados dos testes ainda analisam os riscos hipotéticos – como invasões de hackers – e os desafios apresentados pelo mundo real, como os procedimentos quando um automóvel autônomo quebra numa rodovia.
Relação Conflituosa
No momento, há um problema de curto prazo que é integrar robôs e humanos. Carros de várias montadoras já possuem tecnologia que pode alertar ou até substituir o motorista, seja por meio de controle avançado de velocidade ou de breques que podem funcionar autonomamente. O Uber está trabalhando em uma tecnologia de veículos autônomos e o Google expandiu seus testes em julho para Austin, no Texas.
“Ele sempre vai obedecer às regras, quase a ponto de o motorista se perguntar: `por que o carro está fazendo isso?´”, disse Tom Supple, do Google, durante um recente test-drive nas ruas perto da sede da empresa no Vale do Silício.
Humanos e máquinas, parece, são uma combinação imperfeita. É o caso da tecnologia para mudança de faixa na estrada, que usa bipes ou vibrações para alertar o motorista quando o carro se evade para a outra faixa.
Um estudo realizado em 2012 – que surpreendeu os pesquisadores – concluiu que carros com esses sistemas registraram um número de acidentes ligeiramente mais alto do que veículos sem eles. Bill Windsor, especialista em segurança da Nationwide Insurance, diz que os motoristas ficam irritados com o bipe e acabam desligando o sistema.
Outro fator realça o choque entre a maneira como os humanos se comportam e como os carros interpretam erroneamente tal comportamento: o veículo emite um bipe quando o motorista simplesmente muda de faixa, mesmo quando tem a intenção de fazer isso. Assim, o condutor, nervoso com o som, desliga completamente o sistema.
Windsor recentemente se defrontou com um dos desafios em que a sofisticada tecnologia se choca com o comportamento humano. Foi em uma estrada viajando com seu novo Volvo, equipado com “controle de velocidade adaptável”.
A tecnologia faz com que o carro adapte automaticamente sua velocidade quando as condições de tráfego justificam isto. Mas a tecnologia, como os carros do Google, segue exatamente as normas. Assim, o sistema deixa o que é considerada uma distância segurança entre o carro e o veículo da frente.
Mas é também um espaço suficiente para um carro da pista ao lado se encaixar e, segundo Windsor, eles tentam fazer isso com frequência. Dmitri Dolgov, chefe da área de software do Self-Driving Car Project do Google, diz que uma coisa que aprendeu com o projeto foi que os condutores humanos precisavam ser “menos imbecis”.
Num recente tour com jornalistas do The New York Times, o carro sem condutor do Google realizou duas manobras evasivas. Elas, simultaneamente, mostraram como o carros se equivoca no aspecto cautela, mas também o quão desagradável pode ser essa experiência. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Matt Richtel e Conor Dougherty, tradução de Terezinha Martino)