Crédito fraco empurra para baixo a economia

O Estado de S. Paulo

 

Indicadores sofríveis da oferta de crédito em julho ajudam a explicar a crise. Segundo o Banco Central (BC), as concessões de empréstimos caíram 6,4% em relação a junho, de R$ 324,6 bilhões para R$ 303,8 bilhões. As empresas tomaram R$ 19 bilhões a menos de crédito. Em 12 meses, até julho, o total das concessões de crédito cresceu apenas 5% nominais e diminuiu cerca de 4,5% em termos reais.

 

A evolução é menos dramática no estoque de crédito, que incorpora automaticamente os juros. Nesse caso, houve acréscimo de 0,3% entre junho e julho, de R$ 3,10 trilhões para R$ 3,11 trilhões, mas o crescimento em 12 meses é próximo da inflação. E como os juros médios superam muito a inflação, é mais uma evidência de crédito em declínio.

 

Com juros em alta, tanto empresas como famílias têm mais receio de se endividar. A taxa média de juros, incluindo as operações livres (mais caras) e as operações direcionadas, aumentou de 27,6% ao ano em junho para 28,4% ao ano em julho. Os porcentuais escondem a alta explosiva de alguma linha como cheque especial (+5,6 pontos porcentuais ao ano) e cartão de crédito, cujo custo chegou a 395,3% ao ano.

 

A situação econômica parece preocupar mais as pessoas físicas, que reduziram seu endividamento bancário de 46,1% da renda acumulada em 12 meses em maio para 45,8% em junho e também a inadimplência com os bancos, em contraste com os atrasos crescentes em outras dívidas.

 

Mas parece ser muito pior a situação das pessoas jurídicas, cuja inadimplência chegou ao maior nível nos últimos quatro anos – 4,1% nas operações de crédito livre. Nas operações de capital de giro, a inadimplência chega a 4,6%. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, atribui o problema às pequenas e médias empresas, mas analistas temem que os atrasos também se devam às dificuldades por que passam grandes companhias, como as envolvidas na Operação Lava Jato.

 

O fôlego das empresas depende do consumo e declina com a queda da demanda das famílias, diz Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria, que projeta recuo de 2,8% no estoque de crédito neste ano e de 0,7% em 2016.

 

Até 2014, os empréstimos ainda cresciam por conta do crédito imobiliário e das operações do BNDES. Mas hoje os saques nas cadernetas limitam o crédito à moradia e o BNDES já não tem os recursos fartos do Tesouro para aplicar. (O Estado de S. Paulo)