O Estado de S. Paulo
Em meio a uma das maiores crises do setor automotivo no Brasil, a General Motors anunciou ontem investimento de R$ 6,5 bilhões em sua operação no País para o desenvolvimento de uma nova família de veículos. Com isso, a empresa vai dobrar o montante previsto no plano anterior, anunciado em agosto, e totalizará R$ 13 bilhões em aportes até 2019.
O dinheiro, segundo a empresa, virá de recursos próprios e será aplicado em uma nova plataforma com capacidade para produzir seis diferentes modelos de veículos no País. O pacote faz parte de um projeto anunciado ontem pela matriz do grupo em Detroit (EUA), de aplicar US$ 5 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) numa nova linha de carros compactos para países emergentes, que serão desenvolvidos em parceria com a chinesa SAIC, com quem mantém joint ventures na China.
Além do Brasil, os novos produtos serão fabricados na China, Índia e México e chegarão ao mercado a partir de 2019. Segundo o presidente mundial da GM, Dan Ammann, que veio ao País anunciar o projeto local, as expectativas são de vendas de 2 milhões de unidades ao ano desses novos modelos. O montante para o Brasil não foi revelado.
A crise econômica – que levou o setor a registrar queda de 20% nas vendas no primeiro semestre em relação ao ano passado e a demitir, até agora, 7,6 mil trabalhadores -, não assusta Ammann. “Entendemos que o País enfrenta problemas econômicos e políticos, mas nossa decisão olha para o futuro e continuamos vendo forte potencial no Brasil”, disse o executivo.
O presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, acrescentou que a empresa está no País há 90 anos e “sabe administraras volatilidades da região”. O Brasil, disse ele, “é um mercado chave para a GM”.
Ardila informou que a nova família de veículos inclui novas gerações de veículos já à venda no País e modelos de segmentos em que a marca ainda não atua (por exemplo o de utilitários-esportivos de pequeno porte). Ressaltou, contudo, que o programa não contempla um modelo de entrada, ou popular.
“Estamos desenvolvendo um projeto específico para essa faixa de produto, mas ainda não temos uma definição”. A produção desse modelo, em estudo há dois anos, exigiria aporte específico de R$ 2,5 bilhões. Ele admitiu que os modelos Celta e Prisma devem sair de linha antes de 2017, mas seus substitutos ainda não foram definidos.
O investimento também não inclui aumento de capacidade, por isso não está prevista, inicialmente, contratação de pessoal. Hoje, o setor automotivo opera com apenas 50% de sua capacidade produtiva. O montante, disse Ardila, será aplicado principalmente em novas tecnologias, modernização de equipamentos, novos motores e transmissões e engenharia.
Aposentadoria
Ammarin, número dois no comando da GM ele se reporta à presidente geral Mary Barra – também informou ontem que Ardila vai se aposentar em dezembro. Ele tem 60 anos e está na GM há quase 30 anos, sendo os últimos oito deles no Brasil.
Seu substituto será o americano Barry Engle, de 51 anos. Ele já presidiu a Ford América do Sul e atualmente dirigia nos EUA a Agility Fuel Systems, empresa do setor de produção e distribuição de gás natural.
A GM é a atualmente a segunda maior montadora do Brasil em vendas (com 16% de participação no mercado total de automóveis e comerciais leves), atrás da Fiat (18,6%).
Nos primeiros seis meses do ano a marca vendeu 204 mil veículos, 27% a menos ante igual intervalo de 2014. Ardila projeta para o mercado total vendas de 2,8 milhões de veículos, 20% menos que no ano passado. “Para 2016 esperamos estabilidade e uma recuperação em 2017”.
Fábrica de São José continua fora do plano de investimentos
O novo aporte anunciado ontem pela General Motors para o Brasil, de R$ 6,5 bilhões, inclui projetos para as fábricas de automóveis de São Caetano do Sul (SP) e de Gravataí (RS) e para as unidades de motores em Joinville (SC) e de peças em Mogi das Cruzes (SP). Está de fora a unidade de São José dos Campos, segundo informou o presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila.
“Essa fábrica não é competitiva, pois não temos um acordo trabalhista de longo prazo”, disse o executivo. “Salários e benefícios são maiores do que em outras fábricas e há um nível de inflexibilidade nas relações trabalhistas que precisa mudar”.
No programa anterior, de R$ 6,5 bilhões para o período 2014-2018, a unidade do Vale do Paraíba, onde a empresa enfrenta dificuldades em fazer acordos com o sindicato local, também não estava contemplada.
Procurado ontem, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antonio Ferreira de Barros, disse que só comentará o assunto após ser informado oficialmente da decisão.
Disse ainda que os trabalhadores fizeram acordo de longo prazo com a montadora e aceitaram nova grade salarial, com piso menor para novas contratações, além de “pagamento diferenciado” de participação nos lucros e resultados (PLR).
Esse acordo, segundo ele, tornava viável um projeto de R$ 2,5 bilhões para a produção de um automóvel compacto na unidade, plano que ainda não foi definido pela montadora.
A fábrica de São José produz apenas a picape S10 e o utilitário Trailblazer, além de motores e componentes. Os automóveis feitos na unidade, entre os quais Corsa e Zafira, saíram de linha em 2012 e não foram substituídos. A unidade emprega 5,2 mil pessoas, segundo Barros, e 760 funcionários estão em lay-off (contratos suspensos), com retorno previsto para agosto.
Segundo Ardila, as fábricas operam com pessoal excedente e o grupo ainda avalia o que fará com os trabalhadores que estão afastados. Na unidade de São Caetano há 1 mil operários em lay-off com retorno esperado para outubro. Neste mês, a empresa dispensou 400 trabalhadores. O grupo emprega ao todo 19 mil pessoas no País. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)