Paulo
Granja
Uma vida a 300 km/h: Granja correu o mundo, mas nunca se afastou completamente da sua Porto Alegre natal, terra de suas maiores referências e melhores lembranças. Começou a jornada profissional em 1981, como estagiário de engenharia mecânica nos tempos da Albarus, ainda na rua Joaquim Silveira. Passou por várias cidades, operações e áreas. Se aposentou como Diretor de Compras para a América do Sul.

Para quem passou a vida em ritmo acelerado, riscando o mapa do Brasil de norte a sul, ou voando de um continente a outro para ultrapassar metas e contornar adversidades, o movimento de tirar o pé do acelerador pode não ser tão simples. A ansiedade natural de quem sempre viveu a mais de 300 km por hora, demora a achar espaço numa cadência diferente. Quase três meses depois de deixar a Direção Regional de Compras para a América do Sul, Paulo Antonio Gomes Granja ainda buscava se ajustar ao novo ritmo. Ter um plano rígido para praticar atividade física, dar mais atenção à mãe, viúva recente, gastar mais tempo com a neta, Maria Vitória, e curtir mais a casa de praia da família eram as metas para os primeiros tempos. “Participei até de um curso sobre o período pós aposentadoria, mas confesso que não me preparei completamente para esse momento”, reconheceu o executivo, depois de 42 anos e uma longa lista de bons serviços prestados à Dana.

Granja correu o mundo, mas nunca se afastou completamente da sua Porto Alegre natal, terra de suas maiores referências e melhores lembranças. Começou a jornada profissional em 1981, como estagiário de engenharia mecânica nos tempos da Albarus, ainda na rua Joaquim Silveira. Onze meses depois estava efetivado como auxiliar técnico da Engenharia de Produto, na área de juntas universais, encarregado de analisar cardans e cruzetas, revisar desenhos e tratar da especificação cada produto de acordo com o tipo de aplicação. Ali surgiu uma oportunidade não só para alavancar sua carreira, como também para dar o impulso de uma vida globetrotter: participar do desenvolvimento de um produto com vocação global, a linha de caminhões Cargo, da Ford. Por causa do projeto, Granja viajou para a Dana dos Estados Unidos, onde apurou a técnica para equipar veículos de 15 a 40 toneladas de PBT para vários tipos de aplicação. O envolvimento foi tanto que até hoje ele guarda na memória os cardans referentes ao projeto, de números 1048-091X e 1092X.

Na virada para os anos 1990, a Dana era uma empresa em franca expansão. O portfólio ganhava novas marcas, fábricas eram compradas, outras vendidas. Num movimento paralelo, a indústria brasileira buscava sua maturidade técnica através de programas de qualidade. Foi nessa época que os famosos CCQ’s, ou Círculos de Controle de Qualidade ganharam terreno nas linhas de montagem, anunciando uma nova era. Foi então que surgiu uma nova oportunidade para Granja na supervisão da Manufatura nas linhas de veículos pesados e terminais, dividindo o tempo entre as plantas de Sorocaba e Gravataí. Logo ele assumia também a operação Perfect Circle, que inaugurava um segmento novo para a Dana, com uma divisão focada em anéis de pistão e componentes para motor, visando principalmente o mercado de reposição.

Como gerente de Engenharia de Produto, o executivo precisou colocar o pé na estrada mais uma vez. Viajando com a mulher, Rosa Maria, e os filhos mais velhos, Paulo Augusto e Felipe pelos Estados Unidos, Granja foi em busca de aprender mais sobre a nova aplicação. Passou pela fábrica de Richmond, no estado de Indiana, e viveu uma experiência única na pequena Hastings, um ponto esquecido no estado de Nebraska, porém estratégico para as questões bélicas norte-americanas. Era comum avistar aviões B52 sobrevoando a cidade, provavelmente monitorando os muitos silos que guardavam mísseis e armamentos pesados.

Em 1994, com a exigência por qualidade e produtividade ditando um novo ritmo para o setor automotivo, Granja assumiu um dos maiores desafios da carreira: foi nomeado gerente da área de Qualidade da Dana Brasil. Foram anos de intenso trabalho para melhorar os processos industriais e difundir uma nova mentalidade nas equipes. Já se aproximando da virada do milênio foi convocado pelo então presidente da Dana, Hugo Ferreira, a preparar as plantas Dana para a certificação ISO 9000. Foi uma luta, como o próprio Granja resume: “Contratamos a IBM como consultoria e passamos a adotar padrões e procedimentos que totalmente novos para nós, até àquela época não tínhamos por hábito documentar as coisas, então tivemos que aprender tudo”, lembra. O processo envolvia várias plantas e era comum que o aprendizado de uma, fosse exportado para outra, exigindo mudanças estruturais de cabeças, processos e cultura. “Foi algo espetacular. O envolvimento de todas as áreas, a integração, enfim, foi um esforço e um sucesso coletivos. Ao final de um ano de muito trabalho, entregamos as seis certificações.

Com o lançamento global do DQLP (Dana Quality Leadership Process), Granja foi convocado para ser um dos examinadores das plantas Dana pelo mundo. Mais uma volta pelos Estados Unidos, auditando fábricas na Pensilvânia e no Kentucky, num processo muito mais holístico que envolvia além dos aspectos fabris, o gerenciamento financeiro de cada unidade. Em 2003, a empresa conquistou o Prêmio Nacional de Qualidade, distinção máxima em qualidade, com direito a cerimônia de entrega no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo.

Depois de reunir tanto conhecimento sobre a operação Dana no Brasil e sua interação com a marca global, o executivo foi muito solicitado para atuar na compra e venda de fábricas em vários estados, incluindo a operação em produtos fora-de-estrada, como máquinas agrícolas. Por três anos precisou morar em São Paulo para cuidar pessoalmente da recuperação e venda de duas fábricas, uma no bairro da Lapa e outra no município de Diadema. Faria a mesma coisa com uma fábrica na região de Buenos Aires anos mais tarde.

Retornou para o Rio Grande do Sul em 2004 como Gerente Geral da divisão de cardans no Mercosul, em 2007 passou a exercer o cargo de diretor de Operações para planta Gravataí, e em 2010 iniciou uma nova fase que durou quase 14 anos, quando assumiu a Diretoria Regional de Compras para a América do Sul, tendo sob sua responsabilidade os ativos de compras diretas e indiretas, o desenvolvimento de fornecedores e a parte comercial e de logística internacional, o que exigia viagens frequentes para Argentina, Colômbia, Equador e Venezuela.

De tudo que viveu, até encerrar sua jornada na Dana, em abril de 2024, o que mais aproxima o executivo do jovem tímido que chegou à Dana em 1981 é a vocação para construir relacionamentos. Foi na base de ouvir, respeitar, dialogar e saber compreender que Granja criou pontes, alavancou projetos, engajou movimentos e despertou a simpatia e admiração por onde passou. “Sempre cuidei dessa relação com o próximo, não importa se era uma pessoa que se reportava a mim, alguém do mesmo nível ou superiores. Procurei dar atenção igual a todos, incluindo aí os parceiros e fornecedores. O resultado eu pude ver há poucos dias quando postei a minha despedida no LinkedIn, e tive mais de 800 visualizações e mais de 200 pessoas que se deram o trabalho de escrever para cumprimentar e agradecer. Isso não tem preço”.

Sempre cuidei dessa relação com o próximo, não importa se era uma pessoa que se reportava a mim, alguém do mesmo nível ou superiores. Procurei dar atenção igual a todos, incluindo aí os parceiros e fornecedores.
Compartilhar:
Sempre cuidei dessa relação com o próximo, não importa se era uma pessoa que se reportava a mim, alguém do mesmo nível ou superiores. Procurei dar atenção igual a todos, incluindo aí os parceiros e fornecedores.