Natanael de
Oliveira
Uma vida estradeira. O incansável vaivém pelas cidades do interior de São Paulo, chegando às franjas de Minas gerais, possibilitou a Natanael Oliveira, completar uma viagem de grande crescimento pessoal e profissional. Depois de deixar o ambulatório da Dana em Campinas, em 2023, ele agora participa do grupo de veteranos e planeja aventuras com a família

Cientistas andam estudando a hipótese de que um corpo pode estar sim em dois lugares ao mesmo tempo. A conclusão ainda demora, mas Natanael de Oliveira por pouco não antecipa o fechamento do estudo. Cientistas deveriam pesquisar a vida dele que, na pressa de crescer e se realizar profissionalmente, era capaz de espichar as 24 horas do dia, se deslocando de um lado a outro para trabalhar e estudar em empresas e cidades diferentes. Tanto vaivém, que dá até a impressão de que ele burlava as leis da física.  Movimento é a marca de uma vida dedicada ao trabalho e ao aprendizado sem limites. Natanael se aposentou oficialmente em janeiro de 2023, deixando o ambulatório da Dana em Campinas sob os cuidados do filho, Evandro.

Desde 1995, o sorriso largo do enfermeiro-chefe estava pronto para distribuir saúde e empatia a dezenas de trabalhadores todos os dias. Em pleno boom da terceirização na década de 1990, Natanael entrou para a antiga Sifco, como representante da empresa Guerra & Gisloti, nomeada para assumir os serviços no ambulatório da planta. Embora não tivesse seu nome na razão social da empresa, Natanael era sócio do negócio e tinha na bagagem experiência adquirida em ambulatórios médicos de outras grandes indústrias, como Mercedes Bens e Mahle.

Trabalhar com saúde sempre foi sua vocação, mas não foi por aí que ele iniciou a vida profissional. Filho de um eletricista, ele começou como assistente do pai, auxiliando em instalações e reparos elétricos em residências e empresas. Foi assim até os 16 anos de idades, quando decidiu seguir o que seu coração mandava: a área de saúde.

Nascido em Mogi-Mirim região de Campinas, Natanael se matriculou sozinho no curso de atendente de Enfermagem e logo conseguiu uma vaga na Santa Casa da cidade vizinha, Mogi Gaçu. Porém, como tinha apenas 16 anos, precisou abrir mão do emprego, já que o Coren (Conselho Regional de Enfermagem) proibia menores de idade na função. A virada dos anos 1970 para a década de 1980 marcou o início da correria. Ingressou no curso de Licenciatura para poder dar aulas de Matemática, química e biologia. O detalhe é que a faculdade, ficava em Gaxupé, no estado de Minas Gerais, e Natanael cumpria serviço militar, Mogi Guaçu, interior de São Paulo. A correria de um estado a outro valeu a pena. Antes mesmo de concluir o curso já garantiu a patente de Cabo, um título para uma vida pontilhada de conquistas. E mesmo correndo de uma cidade para outra ainda achava tempo os passeios com a namorada, Vera Lúcia, com quem se casou em 1984.

Já formado e pronto para encarar a sala de aula, Natanael viu anúncio que mudaria completamente sua trajetória: uma vaga no ambulatório na fábrica da Mercedes, em Campinas. Mesmo sem ter experiência na área, arriscou se candidatar e acabou contratado como auxiliar de Enfermagem do Trabalho, menos pelos seus saberes em atendimento de enfermagem, e muito mais por dominar alguns conceitos de informática. “Na época, a Mercedes precisa informatizar o ambulatório e como eu tinha o curso de atendente, o diploma de matemática e conhecimento em linguagem de computador, fui contratado na hora, mesmo disputando com profissionais muito mais experientes”, lembra ele.

Foram quase quatro anos na montadora. Tempo suficiente para informatizar o ambulatório, aprender sobre montagem de veículos pesados, fazer amigos e engordar o currículo, com muitos cursos na área de saúde, sempre no corre-corre entre Campinas e Mogi Guaçu, onde mora até hoje. Então Natanael achou que era mais do que hora de realizar um sonho: cursar a faculdade de Enfermagem, no instituto Hermínio Ometto, em Araras, colocando mais 120 quilômetros diários de estrada, entre ida e volta.  Como o regime do curso era integral, pediu desligamento da Mercedes, mas logo estava empregado na Mahle, em Mogi Guaçu, no turno da noite. Era faculdade das 8 da manhã às seis da tarde, uma soneca entre seis e meia e nove da noite e então vinha o turno da noite, no ambulatório da Mahle, até a manhã seguinte. Nada demais para quem aos 29 anos, queria ganhar o mundo.

Conseguiu concluir tudo com êxito. Conquistou o tão sonhado (e suado) diploma e chegou à chefia do ambulatório da Mahle. Aí se armou de coragem e voltou à Santa Casa de Mogi Guaçu disposto a recuperar sua vaga e viver a rotina de um hospital.  Reassumiu o posto entre 1994 e 2006 e já engatou outro emprego, como folguista no hospital Psiquiátrico Américo Bairral, na cidade de Itapira.

Para um sujeito que jamais respondeu “não” a um bom desafio, Natanael decidiu dar mais um passo, na verdade um salto na carreira: aceitou o convite de dois amigos para montar uma empresa especializada na terceirização de serviços médicos para grandes empresas. No mesmo ano de 1994, com vários projetos em andamento, ele assumiu aulas e coordenou a agenda de cursos de medicina do trabalho no Senac, uma jornada que se estendeu até o ano 2.000.

Empreendendo

A empresa Guerra & Gisloti foi de vento em popa. Venceu a concorrência para assumir o ambulatório da Monroe, em Mogi-Mirim e foi ganhando espaço em muitas empresas da região, chegando a ter 25 funcionários. Natanael escolheu ficar na Sifco porque queria ver de perto o funcionamento de uma forjaria e porque ali encontraria excelente estrutura de trabalho e uma verdadeira família. “Foi uma paixão, encontrei o meu lugar, onde tinha espaço para fazer um bom trabalho e pude me relacionar com pessoas de todas as áreas, fiz amigos médicos, enfermeiros, executivos e vivi um período de muitas realizações”, resume.

Quando a operação Sifco em Campinas foi vendida para a Dana, Natanael seguiu à frente do ambulatório, quase em regime integral. Começou nos plantões e foi ampliando a jornada diária. Foram 20 anos de empresa, com uma pandemia pelo meio, que foi talvez tenha sido um dos maiores desafios na sua carreira em saúde: “Por sorte tivemos a doutora Carmen Kauer comandando um plano de cuidado e proteção a toda a comunidade Dana e seus familiares. Trabalhamos duro nesse período, em plantões de até 18 horas, quando preciso. Nossa maior recompensa foram os baixos números de pessoas acometidas com a forma severa da doença. Em Campinas não tivemos nenhuma perda para o Covid-19”, orgulha-se Natanael.

Passada a pandemia, ele sentiu que era hora de passar o jaleco branco. Teve a sorte de ver o filho mais velho, Evandro dos Santos Oliveira, enfermeiro formado, levando o negócio adiante. Hoje, Evandro é o responsável pelo ambulatório da Dana em Campinas.

Natanael saiu de cena, o que não foi uma despedida fácil. Desde então vem se dedicando à família. Está sempre em contato com os netos, Laís, Matheus, Miguel e Eloisa, filhos de Gisele e Evandro, e apoia as irmãs em um negócio na área de beleza. O tempo livre é passado na chácara em Jacutinga, onde se dedica a planejar viagens com a família. Esteve em Portugal várias vezes, e também na Itália, Espanha, África do Sul e América Central, mas o que gosta mesmo é de praia e de uma boa caminhada a beira-mar, pode ser em qualquer praia do Brasil, momentos em que aproveita para rever uma vida cheia de velocidade: “O corre-corre valeu a pena e continua valendo”, conclui o Sorriso, apelido carinhoso, que Natanael ganhou do então Diretor de Recursos humanos da Dana, Paulo César Oliveira.

Com o filho Evandro, uma vida dedicada à saúde do trabalho
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Com o filho Evandro, uma vida dedicada à saúde do trabalho