Indústria ‘verde’ deve impulsionar economia do País, dizem especialistas

O Estado de S. Paulo

 

A economia brasileira vive um momento crucial para o desenvolvimento sustentável e para o avanço da chamada agenda verde, que prevê a redução na emissão de gases do efeito estufa por parte do setor produtivo. O desafio, apontam analistas ouvidos pelo Estadão no vodcast Dois Pontos, é transformar essa agenda em motor do crescimento econômico, por meio, principalmente, da inovação industrial.

 

“O Brasil está em uma enorme janela de oportunidade, que é curta e vai se fechar, em torno da transição energética, da transformação ecológica e da emergência da descarbonização produtiva. É uma janela para a qual o País tem de ser muito certeiro”, afirma Rafael Lucchesi, diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

Nesse cenário, Lucchesi destaca três nichos em que a economia brasileira tem maiores vantagens competitivas: agricultura de precisão, produção de energia renovável e baterias.

 

O ex-presidente do Banco do Brics, Marcos Troyjo, alerta que, nos próximos 25 anos, países com grande contingente populacional serão responsáveis por parte considerável da contribuição de formação da demanda global. E o Brasil, segundo ele, poderá levar vantagem, principalmente nas questões relacionadas à economia verde.

 

“Temos muitas vantagens comparativas, em alguns casos quase complementaridade, entre produção de alimento, produção de energia sustentável e agenda verde”, afirma Troyjo,

 

Possibilidades Diretor da CNI fala em 3 nichos: agricultura de precisão, produção de energia renovável e baterias

 

que também é ex-secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia.

 

“Isso significa não apenas uma demanda maior por bens em que a gente tem vantagens, o que leva a preços mais elevados ao longo do tempo, mas é complementado por um tsunami de alocação de capital voltado a investimento em infraestrutura e capex (bens de capital) para a economia verde”, diz Troyjo.

 

Os especialistas afirmam que as exigências de redução de emissões de carbono estão impondo uma rápida transformação na adoção de tecnologias inovadoras. “Esse é, certamente, o elemento de maior potencial transformador hoje. Talvez um dos maiores momentos da história em que a dinâmica da economia e também do comportamento humano vai ter de se alterar”, afirma Lucchesi.

 

Carga tributária

 

Para surfar essa onda, porém, o Brasil terá o desafio de endereçar ao menos parte dos seus entraves históricos, avaliam os analistas. Nesse escopo estão carga tributária elevada, problemas de infraestrutura, burocracia, alto custo de energia, falta de investimento e de competitividade.

 

“No Brasil, nós temos uma distância entre o que é recolhido como impostos pela sociedade, que está mais ou menos 11 ou 12 pontos acima da média dos mercados emergentes”, diz Troyjo.

 

O ex-presidente do Banco do Brics diz acreditar que a carga tributária será um fator determinante para que o País possa absorver os elos de produção e parte das cadeias globais de fornecimento que estiveram até agora sediadas na China.

 

“O Brasil está pesado demais, então, quando é dada a largada, você acaba ficando para trás, porque, entre outras coisas, você paga impostos demais”, diz Troyjo. “Essa é uma agenda na qual o Brasil não pode ficar para trás. Nós temos de criar instrumentos que assegurem a inserção (do País) ”, afirma Lucchesi. (O Estado de S. Paulo)