O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Diferentemente dos ônibus urbanos elétricos – que já despontam nas cidades brasileiras –, a transição energética dos veículos de transporte rodoviário ainda está longe de ocorrer por causa das longas distâncias das viagens, que exigem baterias com alta autonomia. No entanto, em outro segmento a eletrificação dá seus primeiros passos: no transporte escolar.
A encarroçadora Caio, em parceria com a fabricante Eletra, está fazendo um movimento importante nesse sentido. As empresas produziram dois protótipos de ônibus escolares movidos a bateria. O primeiro é a versão de 9,6 metros, com capacidade para 41 passageiros sentados e uma vaga exclusiva para cadeirante. A autonomia é de 140 quilômetros e o veículo tem o sistema de frenagem regenerativa, que recarrega a bateria toda vez que o motorista pisa no freio.
O outro modelo, de 11,3 metros, pode levar 52 alunos sentados e uma cadeira de rodas e seu alcance chega a 120 quilômetros. “Conhecemos as necessidades dos municípios e Estados brasileiros e o transporte escolar é uma modalidade sensível para a companhia”, declara Maurício Lourenço Cunha, vice-presidente industrial da Caio.
Ele diz que a empresa participa do programa Caminho da Escola, ligado ao Ministério da Educação (MEC), desde sua implantação, em 2007. A iniciativa visa garantir o acesso diário de estudantes às escolas, principalmente as que se localizam em áreas rurais.
Infra mais simples
“Nossos ônibus são protótipos, os chamados cabeças de série, e estão prontos para serem produzidos usando o chassi de qualquer fabricante”, revela. Em 2022 e 2023, a Caio forneceu a carroceria para os ônibus escolares com motor a combustão da Mercedes-Benz. No ano passado, o chassi era da Iveco.
Segundo a diretora da Eletra, Iêda Oliveira, a bateria do veículo escolar segue o mesmo padrão dos ônibus urbanos. “A diferença é que o projeto e a necessidade de autonomia determinarão o tamanho do banco de baterias em termos de quilowatt-hora”, afirma.
Ela acrescenta que os dois modelos foram desenvolvidos, principalmente, para rotas urbanas, mas podem receber ajustes a fim de trabalhar também em zona rural. “Basta avaliar a aplicação e o custo-benefício dos veículos”, destaca. Para a executiva, a operação do transporte escolar propicia maior disponibilidade de tempo para recarga das baterias. “O carregador pode ser de menor capacidade e não requer grandes investimentos em infraestrutura. A opção ideal seria o fornecimento de um equipamento de, no máximo, 30 kWh”, completa.
Gerador
A Volare, unidade de negócios da Marcopolo especializada em micro-ônibus, também produziu um veículo escolar com uma tecnologia muito interessante. O Attack 9 Híbrido, apesar do nome, é um modelo com sistema de tração totalmente elétrico.
A particularidade do sistema é que o motor turbo 1.0 de três cilindros a etanol trabalha, exclusivamente, como gerador de energia para recarregar os três pacotes de bateria, que armazenam 122 kWh. De acordo com a empresa, o motor funciona em aproximadamente um terço do tempo de operação do veículo e na faixa ideal de rotação, atingindo máxima eficiência
“Com essa solução, fugimos da complexidade inerente à infraestrutura de recarga”, salienta Sidnei Vargas, gerente nacional de vendas e licitações da Volare. Ele conta que o projeto já está disponível e o processo de homologação deve sair no primeiro trimestre de 2025, com comercialização prevista a partir de 2026.
Inovação e segurança
A aquisição de ônibus destinados às escolas públicas é de responsabilidade da Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao MEC, que repassa os recursos aos Estados e municípios mais carentes.
A Volare se ocupa com a produção de ônibus escolares há 20 anos, quando lançou o Escolar Bus. “O Attack 9 Híbrido é uma solução viável para a diminuição das emissões, resultado da sinergia com as empresas Horse e WEG”, afirma.
Com capacidade para 44 crianças e autonomia anunciada de 450 quilômetros, o micro-ônibus se vale do mesmo nível de engenharia empregada nos ônibus rodoviários da Marcopolo. “Usamos aço tubular mais resistente e materiais nobres no chassi, que reduz o peso do veículo e aumenta a segurança”, diz Vargas. “O tronco das crianças estará plenamente seguro em uma colisão lateral, por exemplo.”
Além do Attack 9 Híbrido, a Volare desenvolveu outro modelo pensando na descarbonização do transporte escolar. Trata-se do Fly 10 movido a GNV com mistura de biometano – composto por lixo orgânico, como o bagaço de cana.
O Fly 10 pode transportar 56 pessoas e permite redução das emissões com um trem de força robusto. “Assim como o Attack, o veículo estará homologado no ano que vem para, em seguida, entrar em operação”, afirma Vargas. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)