Falta incentivo à ‘indústria verde’ no País, diz entidade

O Estado de S. Paulo

 

Apesar do potencial natural e da matriz energética renovável, o Brasil tem obstáculos para se tornar referência internacional na indústria verde. Entre eles, a falta de regulamentação e de estímulos. As alternativas para romper essas barreiras estiveram no centro de um debate sobre o tema ontem, na Rio Innovation Week, evento de tecnologia e inovação realizado no Rio de Janeiro.

 

Presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum destacou a importância de o setor industrial se unir para conseguir sensibilizar os governantes. “Precisamos falar de indústria de energia e não de setores separadamente, pois o grande desafio nesta transição energética é alocar da melhor forma possível os recursos, que são escassos.”

 

Elbia disse que a regulação das diferentes cadeias, como eólica, hidrogênio verde e mercado de carbono, é fundamental para garantir segurança jurídica e atrair investidores. “O Brasil tem recursos naturais abundantes, mas isso não significa que estamos prontos. Para atrair investimentos e novas tecnologias, é preciso criar um ambiente legal e regulatório e trabalhar em mecanismos de incentivo. Outra questão são financiamentos, para permitir que a produção seja competitiva.”

 

Corrida

 

Segundo ela, outros países têm avançado de forma consistente em políticas para a indústria verde. “A Europa criou acordos e tem um aparato político muito forte, inclusive associado a subsídios. A China e os Estados Unidos também têm atuado nessa direção. E isso é um desafio para nós, pois o Brasil não dispõe de recursos do Tesouro Nacional para fazer esse tipo de subsídio.”

 

Secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Rodrigo Rollemberg destacou que o momento é “propício” para o debate sobre energias renováveis. Ele ainda enfatizou que o Brasil tem potencial para liderar o setor globalmente. “Somos o país ideal para receber indústrias do mundo todo que precisam descarbonizar seus processos produtivos de maneira acelerada, segura e barata.”

 

Ao tratar sobre incentivos fiscais ao setor, o secretário citou a recente sanção da lei que regula a produção de hidrogênio verde como um exemplo da importância do fomento à indústria verde. “Havia uma resistência natural do governo em conceder incentivos em função da situação fiscal, mas a associação apresentou um estudo mostrando que, quando esses incentivos entrarem em vigor a partir de 2028, o conjunto de benefícios que a economia já terá recebido é muito maior do que os R$ 18 bilhões desembolsados.”

 

Rollemberg ainda enfatizou que o hidrogênio verde tende a ter um papel cada vez mais relevante para o País. “É importante para desenvolver parques de geração elétrica renovável e contribuir com a descarbonização de setores intensivos de energia e de difícil abatimento. Ali na frente vão precisar de hidrogênio para produzir aço, fertilizante, cimento e outros produtos. Vislumbro oportunidades históricas para o Brasil”. (O Estado de S. Paulo/Leandro Becker)