O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Os recentes investimentos anunciados pelas montadoras para o Brasil, que superam R$ 120 bilhões, deverão desencadear um círculo virtuoso em todo o ecossistema da eletromobilidade nacional. A projeção é que, a partir de 2030, o segmento será beneficiado por um potencial de R$ 200 bilhões anuais por novos negócios.
Esse é o resultado de um minucioso estudo da Mirow & Co., consultoria de estratégia que atua nos setores automotivo e energético. Segundo a empresa, de 2% a 11% da frota total de carros leves será eletrificada daqui a seis anos.
Para que eles rodem com a infraestrutura necessária, a soma bilionária irrigará quatro segmentos da cadeia de valor: além das fabricantes, estão incluídos setores de serviços, gestão de recarga e fornecimento de energia.
“A rigor, o estudo começou em 2019, mas o mercado de carros elétricos ficou estagnado, principalmente no período da pandemia”, afirma Felipe Diniz, sócio da Mirow & Co. e líder do estudo. “O cenário era de automóveis muito caros de BMW, Volvo e Mercedes, por exemplo. A chegada dos chineses mudou a chave.”
Marco zero
Ele conta que o período para planejamento de todo o ecossistema da mobilidade elétrica já está em andamento. “O programa Mover, do governo federal, e a série de anúncios de investimentos das montadoras para produção de veículos eletrificados
Sacudida no mercado Dois terços do market share de elétricos 0 km emplacados no Brasil custam até R$ 120 mil
compõem o marco zero do processo de eletrificação da frota e de várias transformações que ela provocará no mercado”, acentua.
O estudo ouviu empresas da cadeia de valor, usuários e provedores de energia. Depois de cruzar os dados e refinar análises e premissas, a Mirow & Co. consolidou os resultados.
“Há vários aspectos que devem ser considerados visando o horizonte de análise de 2030, como a evolução do mercado de elétricos usados nos próximos anos, as fabricantes que pretendem se estabelecer no País e a bateria que está ficando mais barata, deixando os preços dos veículos competitivos”, destaca o executivo.
Diniz reforça que, de 2016 a 2022, a frota brasileira de veículos elétricos cresceu 122%, enquanto Estados Unidos, Europa
e China registraram aumento de 32%, 60% e 65%, respectivamente. De janeiro de 2023 ao mesmo mês de 2024, a compra de automóveis leves plugin evoluiu quase 250%.
Mais atrativos
A expansão continua, mas dois terços do market share de elétricos zero quilômetro emplacados no Brasil custam até R$ 120 mil, como BYD Dolphin Mini, Chery iCar e Renault Kwid eTech. “Isso abre a perspectiva de o segmento criar um mercado de massa”, diz.
O estudo da Mirow & Co. mostra também que os elétricos são mais atrativos economicamente do que os veículos com motor a combustão para quem roda, no mínimo, 30 mil quilômetros por ano. Ou seja, principalmente taxistas e motoristas de aplicativo.
Quem dirige, em média, 13 mil quilômetros/ano sentirá as vantagens de possuir um elétrico a partir de 2028. Como reflexo da produção de eletrificados, cujo início está previsto para 2025, o custo total de propriedade dos automóveis será igual ao veículo a combustão em quatro anos.
“O cálculo leva em conta os gastos para compra e manutenção de um BYD Dolphin, um dos modelos elétricos mais populares e com autonomia anunciada de 280 quilômetros”, aponta.
Fusões no futuro
O relatório faz uma previsão interessante. “A eletrificação promoverá novos negócios entre empresas de eletromobilidade, como de recarga e de distribuição de energia. Haverá fusões e aquisições com vistas a essa nova realidade”, diz Diniz.
Os segmentos de autopeças, manutenção de veículos e locação já são impactados pela eletrificação e a estimativa é de que, em 2030, sejam favorecidos pelo montante de R$ 17 bilhões anuais em negócios.
As locadoras igualmente representam um importante vetor para o desenvolvimento de novos negócios. Segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Veículos (Abla), elas compram mais de um quarto da produção de automóveis no País. Os eletrificados começam a ganhar espaço nesse volume, com 3.300 unidades adquiridas em 2022.
Para as empresas de autopeças e manutenção, a oportunidade de gerar receitas está na especialização em serviços e produtos voltados para a eletrificação. Será uma forma de compensar o impacto provocado pelo baixo índice de manutenção exigido pelos elétricos, por causa do número bem menor de peças, componentes e sistemas. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)