Transição energética tem só metade da infraestrutura, diz diretora do BNDES

O Estado de S. Paulo

 

O Brasil chega à transição energética com metade da infraestrutura que deveria ter, apesar das vantagens comparativas do País, afirmou a diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Luciana Costa.

 

Ela listou como vantagens: estabilidade geopolítica; matriz energética 47% limpa (87%, se considerada só a matriz elétrica); minerais críticos; garantia de segurança alimentar para o País e para o mundo; etanol; biomassa; e o fato de ser o quinto produtor de biometano do mundo.

 

“Nenhum país tem todas essas vantagens comparativas combinadas, só que a gente tem um País que tem metade da infraestrutura que deveria ter. O nosso desafio é o custo de capital e concorrer com países que estão lançando planos de subsídios. A gente está vendo algumas indústrias que poderiam estar aqui indo para os Estados Unidos produzir SAF (bioquerosene de aviação) e biocombustíveis”, disse a diretora em entrevista na sexta-feira.

 

A diretora disse que, para resolver o dilema da infraestrutura, que afeta o custo Brasil e se arrasta há anos, a solução seria aumentar os investimentos na área, com apoio do BNDES e de agentes privados, como ocorreu no caso da Águas do Rio, empresa que ganhou a concessão do saneamento básico do Estado e tem investimentos de R$ 19 bilhões viabilizados pelo banco.

 

“Esse investimento da Águas do Rio é o maior investimento do BNDES. Tudo o que eles fizeram foi com estruturação do BNDES, envolvendo agentes privados. Mas a nossa estruturação e presença no projeto dá segurança para que os bancos privados acompanhem”, disse Luciana Costa.

 

No ano passado, as aprovações para o setor de infraestrutura feitas pelo BNDES somaram R$ 58 bilhões, alta de 25% em relação a 2022, enquanto o desembolso atingiu R$ 35 bilhões, de um total de R$ 114 bilhões, confirmando a infraestrutura como a maior área do banco.

 

Projetos aprovados

 

Para este ano, a expectativa da diretora é que a taxa de crescimento das aprovações de projetos do banco seja pelo menos repetida, “entre 25% e 30%”, mas ela admite que deveria ser bem maior, para fazer frente às necessidades do País.

 

“É um luxo ter o BNDES, temos capacidade grande de estruturação, mas a gente não tem o subsídio. Mais de 80% do nosso funding é mercado, e os investimentos saem buscando custo de capital menor e subsídios. O que a gente consegue fazer ainda é dar funding de longo prazo. Para a infraestrutura o prazo é de até 35 anos e, para energia, 34 anos”, avaliou Costa, ressaltando que, em algum momento, a sociedade brasileira terá de debater o aumento de investimentos em infraestrutura, o que passa por subsídios.

 

“A gente pode rediscutir subsídios, tirar de áreas que não fazem sentido, por exemplo. Estou bem otimista para este ano”, afirmou a diretora do BNDES. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna)