O Estado de S. Paulo especial Tecnologia
Segurança pública é uma das maiores preocupações dos moradores de qualquer cidade. O que vem fazendo com que soluções de tecnologia de vídeo acopladas à inteligência artificial estejam ganhando terreno por se mostrarem ferramentas eficientes contra a criminalidade.
O chamado sistema de vídeo analítico é capaz de identificar a presença de quaisquer elementos incomuns ou estranhos (pessoas portando armas, por exemplo) por meio da análise constante das imagens. Comportamentos fora do padrão fazem com que um sinal de alerta eletrônico seja dado. Por isso, a ferramenta vem sendo usada principalmente em áreas de acesso restrito nos aeroportos, nas estações, nas escolas e até em estádios. Locais abertos, como parques, praças e grandes avenidas também ficam sob vigilância da IA.
Na cidade turística de Tigre, região metropolitana de Buenos Aires, a tecnologia já instalada para ajudar na segurança pública está integrada ao monitoramento do trânsito urbano. O que aumenta o controle dos gestores da cidade sobre a circulação geral. “As pessoas, muitas vezes, se sentiam ameaçadas na cidade em virtude dos casos violência urbana, que é basicamente o que ocorre em muitas cidades na América Latina”, diz Elias Reis, head de Cidades Inteligentes da NEC, empresa que implementou a central de controle no município próximo a Buenos Aires.
Dentro do conceito de “safe city”, adotado pela cidade, criou-se uma central eletrônica que recebe imagens geradas por mais de 2 mil câmeras. O sistema consegue ler placas de veículos e fazer reconhecimentos faciais. De acordo com a prefeitura, houve uma redução de 80% no roubo de veículos, por causa do sistema.
Do lado de cá da fronteira, em Brasília, o movimento fora do aeroporto internacional da capital federal também é monitorado por um sistema de vídeo. As câmeras móveis e fixas leem tanto o fluxo de veículos, quanto os carros parados em locais proibidos. Toda a atitude suspeita também é flagrada pelo sistema. De acordo com os administradores do aeroporto, as filas de carros nas áreas externas de embarque estão menores. “O sistema gera um alerta quando o tempo de permanência do veículo se esgota e o motorista ainda está lá”, diz Luiz Otávio Maciel, analista da Roost, empresa que planejou a aplicação.
No interior do Paraná, a tecnologia, por sua vez, está a favor da segurança no transporte coletivo. Pontos de ônibus de Foz do Iguaçu contam com uma ferramenta eletrônica que monitora o intervalo de passagem dos veículos e também interliga as imagens colhidas nos locais com centrais da polícia e das empresas de transporte. A parceria entre a Intelbrás e a startup Infravias ainda permite que os usuários dos coletivos tenham pontos para carregar o celular nos pontos, além de acessar o wi-fi. Todo o sistema é alimentado por energia solar.
Simples, direta e de baixo custo, a integração de serviços públicos a canais digitais de consultas e atendimento aos cidadãos ganhou de vez as cidades brasileiras. Mais de mil prefeituras já disponibilizaram seus aplicativos, que na maioria dos casos também servem para que os cidadãos comuniquem problemas à administração e recebam alertas do que está acontecendo na cidade.
O app do Rio de Janeiro, por exemplo, surgiu como um passo natural após a criação do Centro de Operações do Rio, o COR, há 12 anos. A decisão de montar a instituição, que hoje integra 30 secretarias municipais e concessionárias de serviços públicos, além de operar um datacenter próprio, foi tomada após uma das várias tragédias que assolam a cidade no verão, ainda mais em tempos de aumento dos eventos extremos por causa das mudanças climáticas.
A sala de operações do COR, de mais de 440 m², dispõe de um videowall com 104 m² formado por 125 telas. Em tempo real, explica Alexandre Cardeman, chefe-executivo do Centro, é possível monitorar tudo o que acontece na cidade. Da central, os dados vão alimentar o aplicativo, os painéis eletrônicos nas ruas e até em podem aparecer nos placares dos estádios em dias de jogos.
“A pessoa, dessa forma, tem acesso a toda a situação da cidade. Os radares, as câmeras, as ocorrências e a situação do transporte público estão na palma da mão”, explica o coordenador do COR. O cidadão, ao usar o app, é localizado por georreferenciamento, permitindo que a informação seja ainda mais qualificada, de acordo com a região onde ele se encontra. “A informação na mão do cidadão, empoderando-o a tomar uma decisão, é o que faz uma cidade ser inteligente”, afirma Cardeman.
Os vários sensores de IoT espalhados pelo Rio de Janeiro, que coletam dados de alagamento, dos pluviômetros, da velocidade do vento, das condições do mar e até da contagem de carros nas vias mais movimentadas, formam o esqueleto do sistema de tecnologia da capital fluminense. Mas até informações das redes sociais e publicadas pela imprensa ajudam na contextualização das condições urbanas. A integração de todas as fontes de informação é considerada fundamental para que se possa atuar com eficiência, defendem os gestores do COR. Parceiros privados, como Google, Waze, Moovit e até a Nasa, também fornecem dados em tempo real que são usados pelo município.
Governos focam na segurança cibernética
A transformação digital em curso nas cidades precisa andar em sintonia com a preocupação em segurança cibernética. Sob pena de os dados dos cidadãos ficarem vulneráveis e da infraestrutura urbana, como o trânsito, entrar em colapso. Redes seguras, protegidas por sistemas de criptografia e autenticação controlados, serviços de nuvem bem orquestrados, com dados seguros em várias camadas, estão entre as providências a serem adotadas pelos gestores municipais, segundo Guilherme Araújo, diretor de Serviços da Blockbit.
Para o executivo, um bom plano envolve o cuidado a uma ampla gama de dispositivos e sistemas, desde câmeras de vigilância, semáforos automatizados até ferramentas digitais de gerenciamento de tráfego. E passa pela atenção dos controles digitais dos serviços de energia e abastecimento. “Eventuais falhas de proteção nesses sistemas podem levar a consequências devastadoras, uma vez que ciberataques direcionados a frentes estratégicas dos serviços públicos podem interromper o funcionamento das cidades ”, analisa Araújo.
Plataformas urbanas começam a surgir pelo Brasil
Em Pindamonhangaba, no interior paulista, 19 áreas do governo estão integradas em uma mesma plataforma eletrônica. Com base em ciência de dados, os gestores do município já usam os dados gerados pelos seus sistemas eletrônicos para tomar decisões, a partir da metodologia BI (Business Intelligence).
“A cidade faz uso de um intenso conjunto de dados preditivos, obtidos pelas iniciativas do governo digital e do uso de dispositivos inteligentes em prédios públicos e nas ruas, para monitorar a segurança pública e também avançar na frente da educação. Tudo, baseado em conectividade via redes de alto desempenho”, explica Danilo Velloso, secretário de Tecnologia, Inovação e Projetos do município.
Na cidade, prédios públicos, praças e câmeras estão equipadas também com câmeras de monitoramento e sistemas de reconhecimento de imagens, entre outras soluções. Na área de interface com os cidadãos, os gestores de Pindamonhangaba investiram em atendimento eletrônico e totens interativos, além de uma plataforma eletrônica de pagamento e negociação de tributos. Alguns pontos instalados em locais públicos funcionam 24 horas por dia para o atendimento dos interessados. (O Estado de S. Paulo especial Tecnologia)