Congonhas testa ônibus elétricos para transporte de passageiros

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

Aos poucos, os aeroportos brasileiros estão eletrificando suas operações internas. Em junho passado, o caminhão elétrico Volkswagen e-Delivery começou a ser usado para o trabalho de reabastecimento dos aviões no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP).

 

Agora, o tradicional Aeroporto de Congonhas, cujo nome oficial é Deputado Freitas Nobre, na zona sul de São Paulo, se prepara para adotar ônibus movidos a bateria no transporte de passageiros dos portões de embarque até as aeronaves e vice-versa.

 

Administrado pela operadora aeroportuária Aena Brasil, Congonhas vem passando por uma fase de testes para definir a empresa que fornecerá 25 ônibus para executar o serviço.

 

Representada no Brasil pela empresa TEVX, a chinesa Higer Bus, maior fabricante de ônibus elétricos do mundo, está no páreo e atuou em Congonhas ao longo de dez dias com o Azure A12BR.

 

Desenvolvido exclusivamente para o mercado brasileiro e já em circulação em algumas cidades, o modelo tem emissão zero de gases e ruídos e desenvolve autonomia de 270 quilômetros.

 

Comodidade total

 

A empresa comemora os resultados. “A sensação de conforto e bem-estar deve começar e terminar a jornada do usuário. Ou seja, antes de ele entrar no avião ou depois que a viagem acaba. E nosso ônibus proporciona isso”, afirma Adriana Taqueti, diretora da TEVX Higer, responsável pela operação nos aeroportos.

 

Ela conta que o Azure A12BR comporta 80 pessoas. Durante os testes operacionais, porém, foi adaptado para transportar de 57 a 60 passageiros para que os usuários levassem a bagagem de mão com mais comodidade.

 

Seja como for, o layout dos bancos ergonômicos não teve alterações em relação ao modelo usado no transporte urbano, mas foram retirados balaustres e catraca. “O ônibus foi projetado com piso baixo e um exclusivo sistema de ‘ajoelhamento’ da suspensão, ajudando o acesso de passageiros com dificuldades de locomoção”, diz.

 

Além disso, o ar-condicionado ficou ligado 100% do tempo. “O sistema do ar do Azure é diferente. Ele não é dividido por zonas. A saída é feita por toda a lateral do veículo, de forma homogênea na frente, no meio e no fundo, envolvendo todas as pessoas”, explica Taqueti. O Azure A12BR também receberá telas que mostram aos passageiros os horários de voo e conexões, assim como acontece nos saguões dos aeroportos.

 

Outros diferenciais do ônibus elétrico da Higer são o maior número de carregadores USB, vidros com proteção contra raios ultravioleta, elementos de cromoterapia, com luzes de LED no teto, para aumentar a sensação de relaxamento dos passageiros, e isolamento térmico no habitáculo. “O pavimento dos aeroportos é diferente, o que aumenta o impacto do calor”, revela.

 

Treinamento

 

O desempenho do ônibus também é um aspecto importante a ser considerado no trabalho de transporte de passageiros na área externa dos aeroportos. “Nesse caso, a prioridade não são os quilômetros rodados, mas sim as horas de operação”, destaca a executiva.

 

Em uma operação considerada severa, o Azure A12BR percorreu, em média, 55 quilômetros por dia e manteve-se em atividade 17 horas ininterruptas, incluindo a troca de turno de motoristas. A jornada começava às 6h e se estendia até às 23h .

 

Os condutores, aliás, passaram por treinamento específico da Higer antes do início dos testes. “Dirigir um ônibus elétrico é totalmente diferente do veículo com motor diesel”, salienta Taqueti. “É preciso entender a performance do veículo zero-emissão, que não deve sofrer acelerações fortes e freadas bruscas. A condução é mais linear.”

 

Os motoristas também puderam conhecer a tecnologia do freio regenerativo, capaz de recuperar até 30% da energia da bateria, o cockpit com banco de suspensão pneumática e câmeras internas e externas com visão de 360 graus. Houve, ainda, uma sessão informativa com a equipe de apoio que faz a manutenção e a limpeza do veículo.

 

Venda ou locação

 

A implantação de ônibus elétricos no Aeroporto de Congonhas terá também a presença da empresa Engie Soluções, responsável pela recarga das baterias dos veículos.

 

Para Raul Moya, diretor de infraestrutura, operações e TI da Aena Brasil, a iniciativa tem um olhar no conforto do passageiro e outro na sustentabilidade das operações, com a redução significativa de emissão de dióxido de carbono (CO2). “Vamos reafirmar o compromisso com a pauta ESG, a inovação e a descarbonização”, ressalta.

 

A TEVX Higer garante que fará sua parte. De acordo com a empresa, o Azure A12BR 100% elétrico deixa de despejar na atmosfera 110.000 kg de CO2 por ano, número equivalente ao plantio de 770 árvores.

 

Adriana Taqueti afirma que o modelo de negócios com a Aena Brasil pode ser de venda ou aluguel dos veículos, em contratos de 10 ou 15 anos. A TEVX Higer mantém conversas para fazer testes em outros aeroportos, além de negociações com prefeituras para fornecer veículos destinados ao transporte urbano.

 

“Os clientes já entendem que, no primeiro momento, o ônibus elétrico não traz viabilidade econômica. Mas ele se paga ao longo de seu ciclo de vida, com a relação custo-benefício, economia de combustível e menores gastos com manutenção”, completa.

 

Azure A12BR em Congonhas

17 horas/dia de trabalho

10.000 pessoas transportadas

1.300 pessoas transportadas/dia

213 viagens realizadas

27 viagens/dia

(O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)