Brasileiros vão à Coreia do Sul ver projetos de eletromobilidade

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

O intercâmbio de conhecimento e experiências tem sido um instrumento importante para o Brasil estudar novas práticas na eletromobilidade urbana. Uma dessas ações foi o The Experience of Korea E-mobility (“O futuro da eletromobilidade da Coreia”), que aconteceu na Coreia do Sul, entre 7 e 17 de agosto.

 

Organizado pelo Future Mobile Center (FMC), instituto de pesquisa sul-coreano sem fins lucrativos e regulado pelo Ministério do Comércio, Indústria e Energia local, e com apoio do PCN, grupo global de certificação de produtos e soluções em eletromobilidade, o encontro se propôs a discutir e fomentar o desenvolvimento de ideias para o futuro da mobilidade urbana.

 

Um dos objetivos do FMC é criar cooperações de instituições e empresas sul-coreanas com economias emergentes. Por isso, ao lado de países como Tailândia, Vietnã e África do Sul, o Brasil foi representado por uma delegação composta pelos professores doutores Celso Morooka e Luciano Caciato, da engenharia mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Aquiles Rossoni, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), além de André da Rocha Ferreira, pesquisador do FMC.

 

“O evento teve foco acentuado em soluções de micromobilidade: e-bikes, e-motos, minicarros e minicaminhões elétricos, apropriados ao trecho final das entregas”, afirma André da Rocha Ferreira. “A cooperação pode se dar de muitas formas, como na realização de intercâmbios entre as universidades dos países.”

 

Atuação integrada

 

O professor Morooka conta que “o Brasil deveria seguir o exemplo da Coreia do Sul, ao investir mais em pesquisas de eletromobilidade e pensar de forma integrada com programas de outros países”. Ele menciona o investimento anunciado de US$ 15 bilhões de gigantes da tecnologia, como Samsung, LG e SK On, para desenvolver técnicas de fabricação de baterias.

 

“Tivemos uma oportunidade única para conhecer o sucesso da Coreia do Sul na utilização de veículos elétricos e acumular informações sobre soluções de transporte mais limpas e eficientes”, acrescenta.

 

Para Morooka, a iniciativa serviu, também, para encontrar diferentes respostas aos desafios da eletromobilidade, principalmente da micromobilidade dentro das cidades. “Por serem mais baratos na aquisição e no valor do quilômetro rodado, os pequenos veículos urbanos são uma excelente possibilidade de mobilidade sustentável, com produtos que, inclusive, podem ser feitos no Brasil”, salienta.

 

Embora China, Europa e Estados Unidos sejam mais festejados no mapa-múndi da eletrificação, a Coreia do Sul tem se mostrado um país bem-sucedido na transição energética. Segundo o FMC, a frota de veículos 100% elétricos no país impressiona: em junho passado, ela era de 465 mil unidades em circulação. Em dezembro de 2022, esse número chegava a 390 mil.

 

“A Coreia do Sul, um dos países mais inovadores do mundo, constrói suas políticas em torno da indústria automotiva – setor estratégico para a economia local”, destaca André Ferreira.

 

Um dos primeiros temas apresentados no evento foi o de desenvolvimento da força de trabalho para a eletrificação do transporte. Para ter ideia, mais de 7 mil universidades sul-coreanas visam formar a mão de obra necessária para esse campo em crescimento.

 

Em seguida, Kim MinKook, CEO da PCS Company, falou a respeito de soluções de redes inteligentes e da integração de diversas fontes de energia, principalmente as renováveis. “Ele mostrou como esses produtos podem ser interligados com a mobilidade elétrica e as possibilidades de carregamento de veículos por meio de energia solar”, descreve Morooka.

 

Poder público

 

Já o professor Hwang JongKook fez uma apresentação focada na fabricação de baterias e suas aplicações em veículos elétricos. “Atualmente, podemos produzir, por exemplo, baterias de bicicletas elétricas com a transferência de tecnologia”, defende o professor da Unicanp.

 

A programação incluiu a visita dos representantes brasileiros à Dpeco, fabricante do microcaminhão Potro. Oferecidos nas capacidades de carga de 250 quilos (P250) e 350 quilos (P350), eles são muito adequados para entregas em pequenos trajetos.

 

A participação do poder público na construção da eletromobilidade* sul-coreana foi pauta de uma das palestras do evento. Os participantes fizeram uma imersão nas políticas do estado de Gangwon, em relação ao futuro da transição energética local.

 

Conduzida por Kim Tae-Hoon, chefe da indústria automotiva do futuro da Divisão Estratégica da Indústria de Gangwon, a explanação abordou os investimentos que levaram Gangwon a assumir o protagonismo no cenário automotivo da Coreia do Sul.

 

“Vimos as iniciativas pioneiras de pesquisa apoiadas pelo Estado, particularmente nas áreas de soluções de segurança automotiva, fabricação de autopeças e estratégias voltadas ao futuro da inovação automotiva”, relembra Morooka.

 

Outra importante visita aconteceu à unidade da Cevo Mobility, responsável pela fabricação do Veículo Elétrico de Baixa Velocidade, microcarro elétrico famoso na Coreia do Sul. Perto da Cevo está o instituto de pesquisas Katech, que possui uma divisão especializada em testes de mobilidade elétrica e empreendimentos pioneiros, como carros voadores.

 

A agenda extensa e o contato com engenheiros e especialistas da área de eletromobilidade urbana cativaram a delegação brasileira no encontro da Coreia do Sul. Todos retornaram com uma missão importante. “Agora, seremos agentes multiplicadores de todas as novidades que pudemos conhecer”, garante Morooka. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)