ESG à parte, negócio é negócio

AutoIndústria

 

Devagar com o andor porque ninguém rasga dinheiro. Essa deve ser a interpretação da Jeep após os primeiros meses de vendas do SUV compacto elétrico Avenger na Europa.

 

A demanda inicial pelo modelo sinalizou para a Stellantis que, se os veículos elétricos a bateria serão o futuro em diversos mercados, até lá ainda há espaço — e muito —, mesmo em países desenvolvidos, para a propulsão a combustão interna.

 

Tanto que, apenas três meses depois de seu lançamento, passa a ser ofertado nos maiores mercados europeus também na configuração a gasolina, depois de Itália, Espanha e Polônia, onde o SUV é produzido. Estamos falando de Alemanha, França e Reino Unido, por exemplo.

 

Em entrevista à publicação especializada Automotive News Europe, Eric Laforge, CEO da Jeep Europa, diz não se tratar de qualquer revisão no plano estratégico global da marca, que prevê 100% das vendas no continente de modelos a bateria até 2030, mas de medida que visa proteger os negócios imediatos dos revendedores de vários países da região.

 

Segundo ele, o Avenger a gasolina vinha sendo ofertado nesses novos mercados a preços “premium”, ou seja, acima do imaginado pela própria fabricante.

 

Os concessionários, assim, concluiu a Stellantis, têm potencial para vender bem mais, caso os valores praticados sejam menores. Ou seja, sem velho ágio, que no Brasil foi praticado por bom tempo para carros populares.

 

O principal executivo da Jeep na Europa reconhece que a ideia original era ter versões a gasolina somente nos países mais carentes de infraestrutura de carregamento, especialmente os Sul da Europa.

 

Esse pragmatismo da Jeep com o Avenger, recorda a própria Automotive News, foi compartilhado pela Toyota, cujo Presidente do Conselho Akio Toyoda analisou, em evento recente, que grande parte do mercado global não está preparada para a eletrificação total dos veículos.

 

O executivo calculou que perto de 1 bilhão de pessoas do universo mundial de clientes de veículos não têm infraestrutura de carregamento suficiente. “Se dissermos que os BEVs (carros movidos a bateria) são a única opção que devemos buscar, o que acontecerá com essas pessoas que não têm infraestrutura suficiente?”, indagou Toyoda.

 

Uma parcela da resposta pode ser identificada no mercado europeu. Na média da região, as vendas de SUV compactos elétricos a bateria recuaram ao longo deste ano.

 

A participação caiu de 3% no ano passado para 2% até maio. Os produtos líderes não ultrapassaram ainda a casa das 10 mil, 12 mil unidades vendidas.

 

O Avenger elétrico acumulou perto de 1 mil desde abril. A Jeep, assim, não esperou quase nada para corrigir os rumos do mix de versões e ampliar a fatia dos motores a combustão na produção.

 

Pode-se depreender que, ESG à parte, negócio é negócio. (AutoIndústria/George Guimarães)