A descarbonização dos transportes no Brasil

O Estado de S. Paulo

 

O Brasil está bem posicionado quando o assunto é impulsionar com energia sustentável os vários tipos de sistemas de transporte. O otimismo no horizonte, como mostrou um dos debates do Summit Infraestrutura mediado por Renée Pereira, jornalista do Estadão, não significa que não existam muitos desafios, e avanços, que precisam ser enfrentados.

 

“Precisamos de respostas tecnológicas para alcançar esse objetivo. O mais inteligente é compor soluções e implementá-las com o que tivermos à disposição nas mãos”, afirma Evandro Gussi, diretor-presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), entidade que representa as principais produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade do Centro-sul do Brasil. Segundo o executivo, a descarbonização das cadeias produtivas é hoje um dos mais profundos desafios da humanidade e não há apenas uma rota. E, no caso do Brasil, uma das formas de avançar está em evolução há décadas.

 

“Os modelos flex são uma inovação nossa. A quantidade de etanol utilizado hoje é de 6,5% em relação à gasolina e esse número pode dobrar em pouco tempo com carros movidos a etanol e eletricidade.” O diretor-presidente da Unica chegou a ir mais longe: “O País tem a grande oportunidade de sofisticar a tecnologia que tem e exportar para o mundo”, disse Gussi.

 

Angela Oliveira da Costa, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), concorda que o Brasil está bem-posicionado em termos mundiais por ter uma matriz elétrica renovável e abundância de recursos naturais. O Norte a ser perseguido, como mostram as projeções dos próprios técnicos da EPE, é aumentar a participação dos veículos híbridos nas frotas nacionais. “A infraestrutura necessária vem sendo estudada e depende de políticas públicas (para ser implementada em maior escala)”, comentou.

 

Com a frota de veículos híbridos em crescimento, um dos gargalos do setor passa pela geração de energia limpa e pela infraestrutura para que ela possa chegar até os consumidores. Atualmente, o País tem 1,3 milhão de gigawatts à disposição em energias eólica e solar, de acordo com os dados apresentados pelo coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GESEL/UFRJ), Nivalde José de Castro. “O cenário brasileiro é mesmo positivo. Temos condições de ser competitivos e atrair a indústria automobilística para implementar a transição energética. A mudança para a eletrificação será mais rápida e radical do que foi no passado com as outras matrizes, porque agora a sobrevivência da humanidade está em jogo.”

 

De acordo com Castro, o País tem recursos energéticos, mas não tem autonomia tecnológica, que terá de vir dos países mais desenvolvidos. “Também precisamos acompanhar a lógica das novas tecnologias. Numa primeira fase, veículos movidos a bateria elétrica vão prevalecer por algum tempo no transporte rodoviário. Até 2050 eles devem ser gradativamente substituídos pelo hidrogênio”, aposta o coordenador da GESEL/UFRJ.

 

A mudança para a eletrificação será mais rápida e radical. Agora, a sobrevivência da humanidade está em jogo Nivalde de Castro Economista da UFRJ. (O Estado de S. Paulo)