Portal R7/Reuters
Montadoras como Volkswagen, Daimler e Stellantis têm corrido para garantir o fornecimento de células de bateria na Europa e podem enfrentar um desafio ainda maior para encontrarem matéria-prima suficiente.
O fracasso em se obter suprimentos adequados de lítio, níquel, manganês e cobalto pode retardar a mudança para veículos elétricos, tornar esses veículos mais caros e ameaçar as margens de lucro das montadoras.
“Há uma questão séria sobre se o fornecimento pode acompanhar a demanda em toda a cadeia de fornecimento de baterias”, disse Daniel Harrison, analista automotivo da Ultima Media.
Até pouco tempo, a Europa era vista como perdedora na corrida de baterias para os fabricantes asiáticos dominantes como CATL, na China; LG Chem, da Coréia do Sul; e Panasonic, do Japão; diz Ilka von Dalwigk da EIT InnoEnergy, que criou uma rede de empresas financiada pela União Europeia na “European Battery Alliance”.
“Ninguém viu isso como um problema”, disse von Dalwigk. “A ideia era que poderíamos importar células de bateria.”
A Volkswagen planeja construir seis fábricas de baterias na Europa, enquanto a Daimler projeta quatro com parceiros. Os anúncios das instalações ocorreram rapidamente, e a EIT InnoEnergy lista quase 50 projetos planejados na UE.
Harrison, da Ultima Media, projeta que as seis fábricas planejadas da Volkswagen permitirão à empresa cobrir cerca de dois terços de suas próprias necessidades de bateria.
Lacuna da cadeia de fornecimento
O problema está nas matérias-primas como lítio, níquel, manganês e cobalto. Em um ano, o preço do carbonato de lítio mais que dobrou, explica Caspar Rawles, chefe de análise de preços e dados da Benchmark Mineral Intelligence (BMI).
No caso do cobalto, onde os maiores depósitos estão localizados na República Democrática do Congo e às vezes são extraídos em condições de trabalho miseráveis, também é esperado um aumento no preço. No início da cadeia de abastecimento, leva cerca de sete anos para que novas minas sejam desenvolvidas.
Até agora, o lítio vem principalmente da Austrália e do Chile, o cobalto do Congo e o grafite da China. Os maiores processadores de materiais catódicos e anódicos também estão localizados lá e no Japão.
A indústria automotiva está atualmente passando por interrupções de produção devido à escassez de semicondutores. Algumas montadoras, incluindo a Volkswagen, estão tentando garantir o fornecimento de matéria-prima com contratos de fornecimento exclusivos.
Mas as importações podem ficar mais caras devido aos aumentos de tarifas em disputas comerciais e problemas de logística, como mostrou recentemente um acidente com um navio que bloqueou o Canal de Suez.
A Ultima Media calcula que se todos os planos de fábricas de bateria se tornarem realidade, a produção local deve atender a demanda ao redor de 2030. Cerca de 640 gigawatt hours (GWh) vai ser disponibilizado, suficiente para uma produção anual de 13 milhões de carros.
Até 2030, a Ultima Media estima que a oferta global de baterias vai somar 2.140 GWh e a demanda 2.212 GWh.
Recursos locais
Uma resposta seriam investimentos na extração de matéria-prima na Europa, onde o lítio está especialmente disponível.
A EIT InnoEnergy estima que até 2030 a Europa poderá aproveitar um quarto das matérias-primas de que necessita, portanto, está trabalhando para levantar mais dinheiro que poderia desencadear mais investimentos no setor.
Harrison, da EIT, porém, acredita que a Comissão Europeia e os países membros da UE terão que tomar medidas – como mais subsídios para a exploração de reservas e reciclagem – “porque há muito em jogo, econômica e ecologicamente”. (Portal R7/Reuters/Ilona Wissenbach)