O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Muitos entraves consequentes da pandemia seguem afetando diversos setores da economia brasileira. No caso das locadoras, boa parte está recebendo somente agora veículos encomendados no último trimestre de 2020 e continuam ocorrendo paralisações de produção em diferentes montadoras, principalmente pela falta dos semicondutores.
Em recente balanço da Anfavea, a associação que reúne a indústria automotiva no Brasil, confirmou-se que as dificuldades ainda seguem, inclusive com a entidade baixando a estimativa de produção anual de 2,52 milhões de unidades para 2,40 milhões. As montadoras no País atingiram o chamado ‘teto técnico’, ou seja, elas não conseguem aumentar a produção, mesmo com a alta na demanda.
O maior motivo desse entrave passa pela crise global no fornecimento de semicondutores, problema que, infelizmente, deve se alongar, pelo menos, até o segundo semestre de 2022. A demanda aquecida, sem produção equivalente, já está elevando os preços dos veículos novos.
A situação preocupa as locadoras, que precisam renovar frotas para atender à retomada dos segmentos de transporte por aplicativos, carros por assinatura e aluguéis de longo prazo a empresas públicas e privadas.
A atual escassez de veículos novos no mercado é um problema mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso ocorre em uma dimensão jamais vista neste século. A indústria automotiva norte-americana não tem produzido o suficiente e, com isso, tem priorizado as vendas no varejo, em detrimento dos pedidos das locadoras.
Normalização vai demorar
O mesmo ocorre por aqui. Frente a esse cenário, para além do fato de algumas montadoras não estarem aceitando novos pedidos das locadoras, as empresas do nosso setor estão tendo de se ajustar, administrando a frota da melhor maneira possível para atender não apenas pessoas em viagens de lazer ou de negócios, mas também para cumprir com as obrigações em licitações para aluguel de veículos aos órgãos públicos.
Se a expectativa inicial era uma normalização da relação entre produção, oferta e entrega de veículos novos, ainda para este segundo semestre de 2021, agora, as perspectivas apontam que isso somente ocorrerá no segundo semestre de 2022!
Em função de tudo isso, nós, da Abla, reduzimos a projeção de compras anuais de veículos do setor de locação, de 450 mil para até 400 mil unidades. Na comparação com o período anterior à pandemia, dentro da normalidade, o setor de locação de veículos estaria comprando entre 750 mil e 800 mil automóveis e comerciais leves neste ano.
Fica a expectativa de uma nova retomada do mercado, com o avanço da vacinação. E, quando isso acontecer, talvez não tenhamos carros para alugar nos meses de férias e festejos de final de ano. Isso pode trazer prejuízos ao turismo doméstico, na medida em que boa parte dos interessados terá de entrar em filas de espera para conseguir seus veículos.
“Com o avanço da vacinação, talvez não tenhamos carros para alugar nos meses de férias e festejos de final de ano”, Paulo Miguel Junior, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis – Abla. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade)