O Estado de S. Paulo
De acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2020, o Brasil registrou 63.447 acidentes apenas nas rodovias federais, com 51.865 dessas ocorrências provocando vítimas (mortos ou feridos). Desse total, 13 mil (17,6%) envolveram caminhões, enquanto os ônibus estiveram em 1.113 (1,5%) deles. São números impressionantes – ainda mais ao se levar em conta que esses dados não incluem acidentes ocorridos em outras vias do País (estradas estaduais e municipais, ruas e avenidas).
Existem muitos fatores que provocam essas ocorrências com veículos pesados (falha mecânica, imprudência do condutor etc.), mas há um que parece pouco lembrado: a falta de respeito dos demais condutores em relação aos caminhões e ônibus. “Por nunca terem conduzido um veículo assim, a maioria dos motoristas de carros de passeio acredita que os pesados possuem o mesmo comportamento de um automóvel”, diz Wilson Baptistucci, engenheiro de produto caminhões da Mercedes-Benz do Brasil.
“Por isso, é comum ver carro disputar espaço com caminhões e realizar manobras arriscadas. Esses motoristas acham que o caminhão conseguirá reagir com a mesma agilidade de um carro”, acrescenta. Alexandre Parker, diretor de assuntos corporativos da Volvo Caminhões, completa: “Por seu tamanho, caminhões e ônibus possuem pontos cegos à condução, que devem ser evitados quando se está próximo de um deles”.
É fundamental que motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres conheçam as características dos diferentes veículos que participam do trânsito e as respeitem. “Ver, pensar e agir com rapidez e responsabilidade são princípios básicos para prevenir acidentes”, enfatiza Rodrigo Chaves, vice-presidente de engenharia da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Tecnologia e segurança
Felizmente, caminhões e ônibus estão se tornando cada vez mais tecnológicos e seguros, passando a contar com equipamentos que ajudam a evitar acidentes – ou minimizar suas consequências. Itens como sistema ABS nos freios, controle eletrônico de estabilidade e assistente de partida em rampa (que não deixa o veículo voltar de ré ao arrancar em um aclive) têm sido comuns em vários modelos.
Alguns pesados têm controlador de velocidade de cruzeiro com frenagem de emergência, equipamento que usa radar para monitorar os veículos que estão à frente e atuam para manter a distância desejada pelo motorista em relação a eles. Se detectar iminência de colisão, o sistema aciona os freios para evitar o choque ou mitigar as consequências do acidente.
A Volvo disponibiliza o Freio Anticanivete, que reduz o chamado “efeito L” nas frenagens de emergência, enquanto a Mercedes-Benz oferece o Mirrorcam, sistema de câmeras que substitui os espelhos retrovisores, proporcionando maior campo de visão e visibilidade, independentemente da luminosidade e das condições climáticas.
Alexandre Parker, da Volvo, diz que a fabricante oferece sistema de controle para ônibus urbanos e rodoviários que limita a velocidade em trechos específicos, como áreas urbanas em que há restrições de trânsito ou imediações de escolas e de hospitais, e também em curvas perigosas, descidas de serra, terminais rodoviários e pedágios. O sistema foi aplicado em biarticulados em Curitiba (PR) e Bogotá, na Colômbia, e contribuiu para reduzir as colisões em 50% e 60%, respectivamente.
Mesmo assim, ainda vai levar tempo para que essas tecnologias impactem na segurança do trânsito. “Tudo vai depender da renovação da frota no País”, avalia Orlando Zibini, engenheiro de produto ônibus da Mercedes-Benz do Brasil. “Não adianta ter um caminhão capaz de frear automaticamente para evitar acidentes se atrás dele vier um carro com 30 anos de uso em más condições”, exemplifica. Além disso, a popularização desses equipamentos ajudará a tornar toda essa tecnologia acessível, mesmo nos modelos mais baratos – como ocorre, hoje, com o ABS. Enquanto isso não acontece, é importante investir em campanhas educativas. (O Estado de S. Paulo)