A mobilidade em Paris pós-quarentena

O Estado de S. Paulo

 

Depois de 55 dias com medidas restritivas de mobilidade, Paris (França) começou um plano de retomada gradual de suas atividades a partir de 11 de maio. Com o fim da quarentena, a capital pode não voltar a ser o que era antes, e isso é uma notícia boa para quem gosta de pedalar, já que a cidade aproveitou a situação para incentivar o uso de bicicletas.

 

A medida é temporária para garantir o distanciamento social, reduzindo a pressão sobre o transporte público, mas a solução tem tudo para se tornar duradoura. A ação é fruto de uma cultura de bikes no país, um metrô sem ventilação e decisões políticas que pretendiam desincentivar o uso de automóveis mesmo antes da pandemia.

 

Das viagens realizadas cotidianamente na região metropolitana parisiense, 60% são inferiores a 5 quilômetros; essa distância pode ser percorrida em 20 minutos de pedaladas, o que dispensa a necessidade de automóveis. Além disso, as bicicletas são bastante difundidas na França: para quase 67 milhões de habitantes, há 30 milhões de bikes.

 

A retomada da mobilidade na capital francesa será controlada. A principal preocupação dos governantes da região metropolitana é criar alternativas de deslocamento para limitar o máximo possível o número de usuários no metrô, além de evitar um retorno maciço ao uso de carros, o que provocaria engarrafamentos e poluição.

 

Adaptação de vias

 

A prefeitura da capital francesa adotou a sinalização com padrões de distância física no espaço público parisiense no chão ou em painéis. A intenção é que os fluxos de pedestres, ciclistas ou carros sejam organizados, respeitando a distância física indicada. Medidas para desestimular os veículos privados já vinham sendo adotadas antes da pandemia, com o fechamento de ruas, a redução de faixas de trânsito e a diminuição do limite de velocidade, estratégia que pode se tornar permanente após o fim da crise.

 

Em cerca de 30 novas ruas, principalmente próximas a escolas, os carros particulares foram banidos, deixando as vias reservadas para pedestres e ciclistas. Essas rotas, porém, permanecerão abertas para veículos de entrega, comerciantes e artesãos.

 

Medidas no transporte coletivo 

 

O maior desafio da mobilidade parisiense na reabertura é o transporte coletivo. Antes do coronavírus, cerca de 5 milhões de pessoas usavam diariamente os sistemas de metrô, trens e ônibus da cidade. Em um primeiro momento, o governo local afirmou que a capacidade será limitada a 2 milhões de passageiros, com controle de usuários por veículo para evitar aglomerações. O uso de máscara será obrigatório para todos acima de 11 anos idade, sob pena de multa em caso de infração.

 

Incentivo ao ciclismo

 

A principal aposta para a mobilidade na cidade são as bicicletas. O governo francês aumentou a rede de ciclovias em 50 quilômetros na região conhecida como Île de France (Ilha da França), que inclui a cidade de Paris e arredores, com área de cerca de 12 mil quilômetros quadrados e que abriga cerca de 12 milhões de pessoas. Nos subúrbios, foram adicionados mais de 100 quilômetros. Essas novas rotas para bikes se somam aos 371 quilômetros da rede cicloviária já existente na cidade.

 

Além disso, o governo anunciou a liberação de € 20 milhões para estimular o ciclismo após o fim do confinamento, o que inclui uma subvenção de € 50 para consertos de bicicletas. Também foi anunciada a ampliação dos locais de estacionamento seguro para esses veículos.

 

Integrantes do governo defendem uma gratificação de € 400 por ano para os trabalhadores que fizerem o deslocamento entre a residência e o trabalho de bicicleta. A ação ainda está em debate na sociedade francesa. (O Estado de S. Paulo/Summit Mobilidade 2020)