Gases de efeito estufa atingem recorde

O Estado de S. Paulo/Agências Internacionais

 

Os principais gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera tiveram concentração recorde em 2018, segundo dados divulgados ontem pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU). O monitoramento também indica que não há “indícios de desaceleração visíveis” da quantidade de poluentes lançados na atmosfera.

 

De acordo com os cientistas, o dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, bateu novo recorde de concentração no ano passado, de 407,8 partes por milhão (ppm). Ou seja, nível 147% maior do que o pré-industrial de 1750. Em relação a 2017, a alta foi de 0,56%.

 

O alerta foi divulgado poucos dias antes do início da reunião anual da ONU sobre a luta contra as mudanças climáticas, a COP25, que será realizada entre os dias 2 e 13 de dezembro, em Madri, na Espanha. A última vez que a Terra teve uma concentração tão elevada de gás carbônico, segundo a OMM, foi em um período entre 5 e 3 milhões de anos atrás.

 

“Não há indícios de que vai acontecer uma desaceleração e muito menos uma diminuição da concentração dos gases causadores do efeito estufa, apesar de todos os compromissos assumidos no Acordo Climático de Paris”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.

 

Acordo

 

Neste ano, o governo dos Estados Unidos oficializou a saída do tratado global, que foi assinado por 195 países em 2015 com o objetivo de articular esforços contra o aquecimento global. A retirada do pacto era uma das promessas de campanha do presidente Donald Trump.

 

A gestão Jair Bolsonaro chegou a fazer diversas críticas ao acordo climático. Mas, depois, garantiu que não vai abandonar o compromisso, diante do receio do agronegócio de perder parceiros comerciais, principalmente europeus, preocupados com a sustentabilidade dos produtos comprados.

 

O documento anual da OMM não leva em consideração as quantidades de gases do efeito estufa emitidas na atmosfera, mas sim as que permanecem nela, já que os oceanos absorvem quase 25% das emissões totais – assim como a biosfera, à qual pertencem as florestas.

 

“Se não fizermos nada, se atingirá uma elevação entre 3 e 5 graus (da temperatura média global) no fim do século”, alertou Taalas. A comunidade científica prevê aumento de desastres climáticos se superada a linha de 1,5 grau de aumento da temperatura até 2100.

 

A OMM também destacou que o aumento anual da concentração de dióxido de carbono, que persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo nos oceanos, foi superior à taxa de crescimento média dos últimos dez anos.

 

Outros gases

 

Os cientistas destacaram ainda o aumento das concentrações de metano (CH4), que aparece em segundo lugar entre os gases do efeito estufa com maior persistência, e de óxido nitroso (N2O). Esses dois gases também tiveram aumento acima da média anual da última década.

 

O metano, cujas emissões são provocadas em 60% pela atividade humana (gado, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros, etc), e o óxido nitroso, com 40% das emissões de origem humana (fertilizantes e processos industriais), também alcançaram níveis máximos de concentração. O óxido nitroso tem ainda forte impacto na destruição da camada de ozônio, que filtra os raios ultravioleta. (O Estado de S. Paulo/Agências Internacionais)