O Estado de S. Paulo/The New York Times
O carro e a energia elétrica cresceram juntos. No raiar da era automotiva, Henry Ford e Thomas Edison trabalharam juntos em projetos envolvendo veículos motorizados e a eletricidade que os tornava possíveis. Logo Ford começou a implementar suas linhas de montagem, enquanto Edison se tornou uma força por trás da rede elétrica e das companhias de fornecimento de energia que a construíram.
Agora, essas companhias precisam fornecer não apenas a imensa quantidade de energia consumida pelas fábricas modernas de carros, mas também abastecer o crescente número de veículos elétricos produzidos nessas fábricas. Se essa eletricidade não for gerada com o mínimo de emissões de carbono e a um custo razoável, as vantagens dos carros elétricos são reduzidas.
Assim, as montadoras e as companhias elétricas voltaram a trabalhar juntas para garantir o fornecimento de energia limpa e acessível – ao mesmo tempo desenvolvendo estratégias de recarga que não sobrecarreguem os circuitos nos períodos de pico. A Honda e a Southern California Edison deram um passo nessa direção. Desenvolveram um programa, Honda SmartCharge, que ajuda os proprietários de veículos elétricos a fazer a recarga quando o maior volume de energia limpa estiver disponível na rede, e quando os preços estiverem mais baixos (a flutuação pode ser significativa).
O sistema usa uma plataforma de software desenvolvida pela eMotorWerks, subsidiária da Enel, uma companhia multinacional de energia que opera usinas de energia renovável. O SmartCharge está em fase de testes com os donos de modelos Honda Fit que usam a área atendida pela Southern California Edison. Os motoristas podem baixar o aplicativo gratuito. O programa calcula o melhor momento para a recarga, levando em consideração as preferências do usuário, a fonte da eletricidade disponível na rede e os índices de preço do sistema elétrico.
Notificações ajudam o proprietário a lembrar de carregar o veículo no momento certo. Se o custo da eletricidade aumentar acentuadamente durante a recarga, o software é capaz de interromper o processo até o preço cair novamente. O programa ajuda os donos do Fit a administrar o custo do abastecimento e a obter bonificações por sua participação. Os esforços também ajudam a Southern California Edison, reduzindo a demanda nos horários de pico.
A BMW, que vende dois modelos elétricos, está testando um programa de agendamento de recarga, trabalhando com a Pacific Gas and Electric, na região de San Francisco, Califórnia. Na sua fábrica de Leipzig, Alemanha, a empresa construiu uma fazenda de armazenamento de energia com baterias de carro usadas, capazes de fornecer eletricidade suficiente para mais de 500 lares comuns por um dia inteiro.
A General Motors está colaborando com uma companhia elétrica de Michigan num programa que usa seu sistema de comunicação de veículos para habilitar a recarga quando as tarifas estão baixas. “Quando bem executados, os veículos elétricos representam uma grande oportunidade de crescimento da carga das companhias elétricas”, disse Britta Gross, gerente da GM. “A recarga pode ser administrada de tal forma que seja vantajosa para a rede, como nos momentos em que o vento sopra ou o sol brilha, e pode ser feita sem a construção de novas usinas.”
Os esforços das montadoras e companhias elétricas vão além da recarga de veículos. A DTE Energy, de Michigan, está trabalhando no desenvolvimento de uma infraestrutura de energia de baixíssima emissão para o Centro de Pesquisa e Engenharia da Ford Motor Company, em Dearborn. Quando concluída, a instalação de 600 acres vai abrigar cerca de 30 mil funcionários da Ford em 20 edifícios novos e reformados.
Do outro lado da cidade, a GM está colaborando com a DTE Energy numa iniciativa para reduzir a dependência em relação às usinas de eletricidade à base de carvão. A GM planeja suprir todas as suas necessidades elétricas com energia renovável já em 2050. Para tanto, serão necessárias novas cooperações. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Paul Stenquist)