Petroleira apoiou plano de Trump de carros poluentes

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Quando o governo de Donald Trump definiu um plano para expandir a fabricação de carros mais poluentes, as montadoras, aparentemente as maiores interessadas, relutaram. Segundo elas, as mudanças tinham ido longe demais. Acontece que havia um beneficiário oculto que pressionava pelas mudanças: a indústria petrolífera dos EUA.

 

No Congresso e em Assembleias estaduais em todo o país, a Marathon Petroleum, maior empresa de refino dos EUA, trabalhou com poderosos grupos da indústria e uma rede política conservadora financiada pelo bilionário Charles Koch para executar uma campanha para reverter os padrões de emissões de carros, segundo investigação do New York Times.

 

O principal argumento da campanha para amenizar os padrões de eficiência de combustível – uma vez que os EUA estão tão inundados de petróleo que não precisam mais se preocupar com energia – entrou em conflito com décadas de política ambiental.

 

“Com a escassez de petróleo deixando de ser uma preocupação, os americanos deveriam ter a possibilidade de escolha de veículos que melhor atendam às suas necessidades”, dizia o rascunho de uma carta que a Marathon ajudou a circular entre os congressistas.

 

Correspondência oficial posteriormente enviada às autoridades regulamentadoras por mais de uma dúzia de legisladores incluíram frases formuladas pela indústria.

 

Ela tinha suas razões para pedir a reversão dos padrões mais elevados de eficiência de combustível propostos pelo ex-presidente Barack Obama. Um quarto do petróleo mundial é usado para abastecer carros, e veículos mais econômicos significam vendas mais baixas de gasolina.

 

Pressão

 

Nos últimos meses, a Marathon Petroleum também se uniu a um grupo político secreto dentro da rede Koch, o American Legislative Exchange Council, para elaborar uma legislação para os Estados que apoiam a posição do setor.

 

A resolução proposta em 18 de setembro descreve as atuais regras de eficiência de combustível como “relíquia de uma narrativa contestada de escassez de recursos” e diz que “burocratas não eleitos” não deveriam determinar quais carros os americanos devem dirigir.

 

Uma campanha do setor, em separado no Facebook, sigilosamente dirigida por um lobby da indústria, representado por Exxon Mobil, Chevron, Phillips 66 e outras gigantes do petróleo, instou as pessoas a escrever aos reguladores para apoiar a reversão da política de Obama.

 

Os padrões anteriores exigiam que as montadoras praticamente duplicassem a economia de combustível de novos carros, SUVs e picapes até 2025. O plano de Trump, se finalizado, aumentaria as emissões de gases de efeito estufa nos EUA mais do que em muitos países de médio porte lançariam em um ano e reverteria um grande esforço do governo anterior para combater as alterações climáticas.

 

Para os produtores de gasolina como a Marathon, uma mudança para veículos mais eficientes representa uma séria ameaça a seus resultados financeiros. Em outubro, a empresa adquiriu uma rival, a Andeavor, tornando-se a maior refinadora dos EUA, com vendas de mais de 60 bilhões de litros de combustível por ano. (O Estado de S. Paulo/The New York Times)