O Estado de S. Paulo
A fabricante chinesa de ônibus elétricos BYD, que há sete anos era motivo de piada nos eventos do setor automotivo na Europa, está prestes a inaugurar sua segunda fábrica no continente. Além de uma unidade de produção na Hungria, terá uma fábrica na França. Maior fabricante de veículos elétricos da China, a companhia tem entre seus sócios, desde 2008, o megainvestidor Warren Buffett.
O desembarque da BYD (Build Your Dreams) na Europa reforça uma nova tendência que, rapidamente, está transformando os sistemas urbanos de transporte diante de cidades ávidas por reduzir o trânsito, cortar as emissões de CO², suprimir gastos públicos e ainda depender cada vez menos dos barris de petróleo.
A BYD não é a única do setor a se interessar pela Europa. A Yutong também anunciou a criação de uma sociedade com a francesa Dietrich Carebus.
O interesse chinês pela Europa não ocorre por acaso e faz parte de uma estratégia global de liderança em um novo modelo de transporte.
Em Pequim, o segmento de ônibus elétrico se transformou em uma prioridade industrial para o governo, que passou a dar subsídios de até 40% para empresas que optem por substituir seus velhos modelos a diesel pela nova tecnologia. Assim, a China espera se inserir num novo mercado em posição de líder incontestável.
Dos 120 mil ônibus elétricos vendidos no mundo em 2017, 95% circulam na China. Agora, essas empresas querem expandir e colocam o continente europeu como uma de suas prioridades.
Na Europa, o transporte representa 27% das emissões de CO² e a meta do Acordo de Paris é de que, até 2050, essas emissões sejam reduzidas em 90%. Mas a venda de carros elétricos ainda é pequena. Em 2017, por exemplo, apenas 250 mil unidades chegaram às ruas europeias, ante mais de 19 milhões de novos carros vendidos no mesmo ano.
No que se refere aos veículos privados, a meta europeia é ainda tímida, com o objetivo de chegar a 5% da frota do continente sendo elétrica ou híbrida até 2021. Na China, a meta é chegar ao fim deste ano com 4% da frota operando de forma elétrica.
As autoridades europeias viram no sistema urbano de transporte uma maneira de acelerar a introdução da nova tecnologia. Dos 725 mil ônibus que hoje circulam pelo continente, 2,5 mil são elétricos. Em Londres, o prefeito Sadiq Khan declarou que, a partir deste ano, nenhum veículo a diesel seria comprado e que, até 2020, todos os tradicionais ônibus vermelhos de dois andares da cidade seriam híbridos.
Pelo continente europeu, cidades como Genebra, Oslo e Amsterdã também seguem na mesma direção. No ano passado, 13 grandes cidades mundiais se comprometeram a comprar exclusivamente ônibus elétricos até 2025.
À frente
E, nesse novo mercado, a China quer garantir sua liderança. Hoje, a cada cinco semanas, 9,5 mil ônibus elétricos novos começam a circular pelas cidades chinesas – o equivalente à frota total da Londres. São 300 mil ônibus elétricos circulando hoje na China. Em Paris, os primeiros veículos com essa tecnologia devem chegar só em 2020. Atualmente, 17% do transporte público urbano da China é movido a eletricidade, em comparação a menos de 2% na Europa.
Shenzhen é considerada como o maior exemplo desse desenvolvimento, depois que completou a eletrificação de toda a frota de 16 mil ônibus no fim de 2017. Para permitir que isso pudesse ocorrer, a prefeitura local instalou 32 operadores de energia, 166 estações de recarregamento e mais 1,8 mil pontos de eletricidade de curta duração. Até 2020, serão 8,2 mil pontos, capazes de atender a 24 mil veículos. (O Estado de S. Paulo/Jamil Chade)