Como o 5G pode abrir caminho para os carros autônomos

Época Negócios

 

Um dos campos de estudo que mais integram ramos de tecnologia e setores empresariais é o da mobilidade: em especial o desenvolvimento rumo aos carros autônomos. Se veículos totalmente automatizados ainda parecem um futuro distante, estudos que reúnem empresas como Ford, Qualcomm e Panasonic, por exemplo, já apresentam resultados animadores na comunicação entre veículos e também com semáforos e outros elementos do trânsito, como mostra análise do The Technology Review.

 

No mês passado, foram realizados na Alemanha os primeiros testes utilizando a tecnologia C-V2X (sigla para Cellular-vehicle-to-everything, ou Celular-veículo-e todo o resto), que conecta chips implantados em carros, motos, semáforos e smartphones, por meio da rede de celular. Assim, motoristas são avisados de freadas, sinais vermelhos e da presença de pessoas na pista, ficando mais preparados para qualquer imprevisto.

 

Os testes, que seguiram e tiveram a última edição realizada nas últimas semanas no Colorado, Estados Unidos, são conduzidos pela 5G Automotive Association (Associação Automotiva 5G). O consórcio inclui montadoras, como Ford, Volkswagen, Nissan, Volvo, Audi e BMW; companhias de telecomunicações, como AT&T, Ericsson, Huawei e Verizon; e outras de tecnologia, como Samsung, Panasonic e LG – além da Qualcomm, que fornece os chips.

 

Nos experimentos, os chips se comunicam a uma taxa de 10 vezes por segundo, garantindo notificação praticamente instantânea. Mais à frente, espera-se que as conexões possam ser estendidas a pontes, obras na pista e outros elementos, englobando toda a experiência de trânsito.

 

O nome da associação não foi escolhido aleatoriamente: é o 5G que, acredita-se, pode levar a um novo nível a comunicação já estabelecida entre os veículos, abrindo caminho para carros de fato autônomos. A nova geração da telefonia irá operar em frequências que permitem conexões muito mais potentes, multiplicando exponencialmente a quantidade de informações que cada ponto envia e recebe a cada segundo.

 

“Quando chegarmos ao 5G, você poderá saber quando um veículo bem à frente de você pretende trocar de faixa, ou quando ele começa a frear, mesmo que não esteja no seu campo de vista”, diz o VP de gerenciamento de produtos da Qualcomm, Nakul Duggal. “Seria possível criar faixas especiais em que os veículos autônomos poderiam andar muito rapidamente, porque conseguiriam trocar informações sobre o tráfego de forma extremamente veloz”.

 

Tecnologia concorrente

 

Há, no entanto, quem esteja procurando caminhos diversos para a conectividade dos carros. Não estão na 5GAA duas das maiores montadoras do mundo: Toyota e General Motors, que apostam na tecnologia baseada em wi-fi DSRC (sigla para Dedicated Short-Range Comumunicatios, ou Comunicações Dedicadas de Curto Alcance). Esta, no entanto, não é compatível com o C-V2X e demanda que roteadores sejam instalados nas vias.

 

Com a “disputa” entre as duas tecnologias, cogitou-se que reguladores governamentais poderiam optar por um ou outro lado. Nos Estados Unidos, entretanto, a administração Trump vem sinalizando que deixará a a decisão para o mercado. O que pode fazer a diferença para o C-V2X é justamente o poder do 5G, que, espera-se, mostrará todo o potencial da tecnologia.

 

Mas, enquanto isso, há quem se prepare para o uso concomitante dos dois tipos de conexão. No Colorado, tanto roteadores DSRC quanto chips da Qualcomm para o C-V2X estão sendo implantados nas estradas, para atender motoristas de todas as marcas de carros. O Departamento de Trânsito do estado espera já ter 2,5 mil veículos com ambas as tecnologias ainda neste ano circulando pelas vias. (Época Negócios/Rafael Faustino)